Quem já não se deparou
com crianças reinando em lugares públicos como restaurantes, parques e
shoppings. Muito choro, gritaria, deitados pelo chão no caminho de outras
pessoas, se debatendo, negando-se a fazer algo ou mostrando atitudes agressivas
em relação aos pais ou pessoas a sua volta. Um cenário sem dúvida assustador e
constrangedor para muitos pais que se veem surpresos por encontrar naquele
bebê, outrora muitas vezes dócil, esta nova criatura que mais parece uma "cri-onça".
Mas, fique tranquila que
esse período terrível tem um nome: chama-se "adolescência do bebe".
Nesse período, a criança, que antes era um bebê, já consolidou uma maior
independência motora (anda com coordenação e equilíbrio, sobe e desce degraus,
corre e tem boas noções de espaço), se comunica melhor e sua fala possui um
vocabulário mais amplo, percebe e entende bem mais das relações humanas e de
como o mundo funciona.
A criança ainda
diferenças sutis entre as pessoas e se vê com características, interesses e
vontades pessoais. Mas, asseguram psicólogos consultados pelo Tempo de Mulher,
a fase é natural no desenvolvimento infantil porque é quando a criança começa a
perceber que tem sua própria identidade. Essa adolescência faz parte do
processo de diferenciação do eu e da construção da identidade da própria
criança.
'Adolescência do bebê' é
a fase onde a criança busca autonomia
Ao se aproximar dos 2
anos de idade, a criança ganha um novo e surpreendente modo de estar no mundo:
a fala. Até então eram os pais e outros adultos que decodificavam
seus gestos e emissões sonoras, além de decidir o que vestir, comer e demais
rotinas.
A partir da fala, essa
criança pode agora expressar suas vontades e começar a se inserir nesse grupo
familiar com autonomia gradual fazendo questão de mostrar isto aos pais ou quem
quer se aproxime. 'O que temos, então, são bebês que agora ordenam, gritam e
fazem de tudo para que sua vontade seja obedecida. Caso contrário, lançam mão
de todos os recursos disponíveis pra que sejam satisfeitos e haja pulmão,
ouvidos e paciência dos pais', explica Kathya Mutti, psicóloga e
psicodramatista pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Essa 'adolescência' pode
durar até os 3 anos
Essa 'adolescência'
ocorre entre o primeiro ano e o segundo ano e meio de vida da criança. Nessa
fase é esperado que a criança faça birras, pirraça e diga sempre não a
tudo. 'A partir dos três já não se espera essas atitudes. Mas, se durar
até os quatro anos, os pais devem se preocupar. A criança que tem
todos os desejos atendidos demora mais para desenvolver o próprio eu', analisa
Maria Rocha, psicóloga e diretora pedagógica do Colégio Ápice.
Para Kathya Mutti,
algumas crianças têm respostas diferentes e mais brandas a esta fase que pode
se estender até os 3 anos de idade. 'Em parte isto pode ser explicado pela
forma como cada bebe experimentou situações de satisfação e de frustração
durante seu desenvolvimento', explica a psicóloga.
Criança, nessa fase,
quer também afirmar sua independência
A psicóloga Christine
Bruder, da Primetime Child Development, centro de desenvolvimento infantil para
bebês de 0 a 3 anos, explica que nessa fase de desenvolvimento emocional alguns
comportamentos de oposição e busca por independência se intensificam na
criança e, assim, ela passa a querer fazer tudo sozinha, tomar decisões,
fazer escolhas e afirmar sua individualidade.
Assim, para se afirmar,
a criança se opõe passando a dizer não à maioria das coisas que antes era
aceitas com tranquilidade, tornando as coisas simples do dia a dia em momentos
desafiadores para os pais e filhos dessa idade. 'É interessante lembrar que a
própria criança oscila entre se sentir capaz de tudo e se sentir um bebê que
precisa de colo e conforto dos pais quando está com medo ou frustrada', observa
Christine.
Pais podem
deixar crianças decidirem sobre coisas simples
Emocionalmente, observa
Kathya Mutti, essa é a fase onde a criança ainda vê o mundo a serviço dela,
para ela e quando ela quiser. Os pais podem e devem ajudar os pequenos nesta
transição e não podem se esquecer de estabelecer limites. 'As crianças podem
decidir sobre algumas coisas como roupas, brinquedos e brincadeiras e parte de
algumas refeições. Mas, aquelas decisões ligadas à segurança, integridade
física e emocional, ainda são os pais que decidem e ponto final, sem chantagem
ou moeda de troca', opina a psicóloga, psicoterapeuta e psicodramatista pelo
Instituto Sedes Sapientiae.
'Não devemos ter medo de
colocar limites e dizer não para protegê-los e ensiná-los a encarar e superar
as frustrações que a vida vai impor a eles. Conversem, mostrem que vocês sabem
que ele está crescendo e elogiem seus acertos. Eles precisam buscar seu lugar
no mundo repleto de diferenças e o lugar mais seguro e acolhedor para se
preparar é onde encontramos o amor dos pais e da família, nosso porto seguro de
onde partiremos para a grande aventura que é crescer e viver', recomenda a
psicóloga Kathya Rocha.
Hierarquia é importante
para desenvolvimento moral da criança
Em alguns lares, os pais
estão ali para atender aos desejos dos filhos que são o centro do mundo para
eles. Isso está errado! A autoridade dentro de casa é o pai e a mãe. Para a
criança desenvolver seu juízo moral, tudo que o adulto falar deve ser lei.
'Saber que dentro de casa existe uma hierarquia é importante para o próprio
desenvolvimento moral da criança. O papel dos pais é educar e preparar o filho
para vida social', opina a psicóloga Maria Rocha.
Birras em locais
públicos
Em situações de birras
públicas, seja firme com a criança. Mostre que reprova aquilo que ela está
fazendo e diga para que pare com aquele comportamento e que só vai ouvi-la se
ela parar de se comportar daquele jeito. Assim que se acalmar, chegue perto
dela, abaixe-se para que ela possa ver sua
expressão na linha dos olhos e
faça-a compreender que aquela não é a melhor maneira de se comportar.
'Mostre-lhe as
consequências do seu comportamento, dê a ela outras opções de mostrar seu
descontentamento com algo e combinem que vão tentar fazer de outra forma da
próxima vez', recomenda a psicóloga Kathya Mutti. Mas, se nada disto funcionar,
tente chamar a atenção da criança para outra coisa estimulante e desfaça este
'palco' que ela se colocou e colocou vocês também, saindo do campo tenso que se
formou, pois, assim, você pode diluir esta tensão.
'Mostre a ela que você
não gostou do que aconteceu e que desaprova aquele comportamento. Não a agrade
em seguida ou ofereça algo que ela gosta para que pare com a birra, pois isto
pode estimular novos comportamentos deste tipo, porque mesmo que ela não
consiga algo, outra recompensa virá', diz a psicóloga.
Pais não podem dizer nem
tanto 'não' nem tanto 'sim'
Os pais devem buscar
compreender essa 'adolescência' para se sentirem mais seguros ao lidar com essa
situação. É importante ter muita paciência, tranquilidade e não voltar
atrás daquilo que se disse. Não dizer nem tanto 'não', nem tanto 'sim' e os
pais não podem se esquecer de elogiar bons comportamentos da criança.
'Dê atenção, elogie seu
filho, o faça participar das tarefas do adulto para que ele se sinta fazenda
parte da família e importante na rotina familiar. Você deve dar atenção a ele
quando fizer coisas certas, porque ele vai ver que esse é o caminho para chamar
a atenção dos pais', recomenda Maria Rocha.
Converse com a criança
os motivos daquela oposição
Converse com seu filho
para saber os motivos dele por aquela escolha ou oposição. Algumas vezes, esta
oposição pode esconder a insatisfação por algo que ocorreu antes da birra,
então, falem sobre o que realmente motivou o descontentamento. 'Dessa maneira,
a criança se sente acolhida e reconhecida nas suas novas necessidades de
afirmação. Incentive-a explorar tudo o que o cerca e faça-a sentir que você a
protegera dos perigos e dirá não se ela quiser fazer algo que possa machucá-la.
Dessa forma, ela começa a diferenciar o que pode ou não fazer', observa a
psicóloga Kathya Mutti.
Frustração é saudável
nessa 'adolescência'
É importante que nem
sempre o desejo dos filhos seja prontamente atendido porque a frustração faz
parte do desenvolvimento saudável. A mãe não deve se mostrar desesperada em
frente a uma situação de birra. Se a criança chora um pouco hoje e consegue ser
atendida, amanhã ela vai chorar mais ainda sabendo que será atendida. 'Os pais
devem justificar porque não vão fazer o que a criança quer de uma maneira muita
direta e simples e ignorar toda vez que ela fizer uma birra', opina Maria
Rocha.
No entanto, observa a
psicóloga Christine Bruder, outra questão importante é que essas decisões sobre
como lidar com estes comportamentos devem ser conversadas entre os pais ou
cuidadores desta criança para todos agirem de comum acordo. 'A criança percebe onde
é mais fácil 'furar o bloqueio' e isto cria um conflito a mais entre os pais, o
que torna este processo muito mais confuso para todos', adverte a especialista
da Primetime.
A fase, difícil, requer
paciência e tolerância dos pais
Nesta 'adolescência
do bebê', os pais devem ter muita calma, paciência e tolerância
com o pequeno que só quer conquistar seu espaço, mas ainda não achou uma forma
mais tranquila para marcar seu lugar no mundo. 'É uma fase muito difícil para
os pais que, muitas vezes, também precisam de ajuda profissional para encarar
esta situação com os pequenos', explica Kathya Mutti, psicóloga e
psicodramatista pelo Instituto Sedes Sapientiae.
Fonte: http://estilo.br.msn.com/tempodemulher/amor-e-sexo/crise-dos-2-anos-10-dicas-para-lidar-com-a-adolesc%C3%AAncia-da-crian%C3%A7a
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