domingo, 4 de janeiro de 2015

Grafomotricidade

Autor: Valéria Barbosa de Resende,

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG / Faculdade de Educação / Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita-CEALE,

Do ponto de vista etimológico, “grafo” vem do grego graphein e significa escrita; “motricidade”, vem do Latim motor, do verbo movere, “mover, deslocar”. Assim, o termo grafomotricidade diz respeito ao conjunto das funções neurológicas e musculares que possibilitam, aos seres humanos, os movimentos motores no ato da escrita.
Os métodos tradicionais de alfabetização consideravam o desenvolvimento das habilidades grafomotoras como pré-requisito para a alfabetização, uma vez que defendiam o pressuposto de que o aprendizado da leitura e da escrita dependiam do nível de maturidade da criança – e, segundo essa concepção, a competência motora era uma das expressões dessa maturidade. Desse modo, o surgimento do Teste ABC de Lourenço Filho (1930) veio corroborar tal concepção e destacou, em alguns subtestes, a habilidade de coordenação visual e motora através de questões nas quais a criança era solicitada a realizar cópia de figuras, reproduzir movimentos e recortar determinadas figuras geométricas. Ressalte-se que os recursos da tecnologia da escrita, na época, restringiam-se ao lápis, à caneta e ao papel, e a caligrafia tinha um valor diferenciado, justificando a ênfase atribuída a essa habilidade. Além disso, a concepção de alfabetização adotada relacionava leitura, inteligência e maturidade, privilegiando a coordenação motora e visomotora, assim como formas visuais e auditivas de memória e de discriminação perceptiva.
A metodologia tradicional de ensino era bem controlada e se baseava na memorização das formas gráficas das letras definidas nas cartilhas – de seus nomes e valores sonoros – enfatizando a habilidade de saber traçar no caderno a escrita cursiva. Esse tipo de escrita surgiu com a intenção de ser uma forma “mais rápida”, para uso pessoal ou comercial, que se caracteriza por uma simplificação gráfica no traçado, no qual todas ou a maioria das letras encontram-se ligadas dentro de cada palavra –  “letra emendada” –, e pela preferência por formas arredondadas.
Os estudos da Psicogênese da Língua Escrita desenvolvidos por Emília Ferreiro e Ana Teberosky demonstraram o papel secundário da grafomotricidade no processo de alfabetização. Evidenciando a diferença entre copiar e escrever, as autoras defenderam o pressuposto de que a escrita é muito mais do que desenvolver habilidades percepto-motoras; envolve representação e, por isso, é fundamentalmente uma tarefa de ordem conceitual.
A partir dos estudos da Psicogênese da Língua Escrita e da constatação de que as crianças podem representar a escrita e escrever desde muito cedo, a metodologia atual de alfabetização considera que uma forma mais fácil de registro se dá pelo uso da letra de fôrma, que pode ser caracterizada como um tipo de escrita à mão na qual as formas das letras se parecem com tipos da letra de imprensa e se encontram total ou parcialmente desconectadas dentro de cada palavra. Esse tipo de escrita possibilita ao aprendiz visualizar cada letra grafada, contar letras, comparar o número de letras e sílabas e confrontar sua escrita com a escrita convencional. Nessa nova perspectiva, o uso da letra cursiva é colocado em segundo plano, embora seja importante do ponto de vista da rapidez e da prática cultural.
Na escolarização, a letra cursiva é utilizada preferencialmente quando o aprendiz alcança a hipótese alfabética. Seu ensino pressupõe uma técnica apresentada ao aprendiz, incluindo a forma de inclinação, os movimentos ascendentes e descendentes. Para as pessoas com deficiência motora e que têm dificuldades para segurar o lápis e coordenar os movimentos, é possível lançar mão de algumas adaptações nos materiais escolares, como, por exemplo, engrossar o diâmetro do lápis e usar o teclado do computador, com auxílio de instrumentos de extensão. Diante dos avanços dos recursos tecnológicos e da democratização de seu acesso, o ensino da escrita cursiva vem perdendo seu valor, ficando cada vez mais deixada de lado a preocupação com a habilidade grafomotora e mesmo com a legibilidade e a padronização das escritas. Contudo, tanto a escrita à mão, quanto a que se faz no teclado ainda exigem o desenvolvimento de habilidades grafomotoras específicas para o uso social da escrita. 


Fonte: http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/grafomotricidade

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