sábado, 18 de setembro de 2010

Diversidade com cor, som e sabor.




“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro...”

Gilberto Freyre, Casa Grade e Senzala

                                                      

1.    IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Escola: 
Tema: Diversidade com cor, som e sabor.
Tempo de execução: Mês de novembro
Culminância: 
Características: Projeto Interdisciplinar.
Público Alvo: Anos Iniciais do Ensino Fundamental

2.    PROBLEMATIZAÇÃO
                           O estudo institucional da sociedade brasileira revela uma disposição funcional de consentimento à discriminação e ao racismo, que até hoje é alvo de inúmeros protestos, mesmo dentro do campo educacional, ficou registrado os astutos laços de superioridade elegida pelo homem branco, a exemplo os dispositivos da Educação no Brasil Colônia.  No decreto 1.331 de 17 de fevereiro de 1854 estabelecia a proibição de escravos nas escolas públicas, mais adiante em 1878 no decreto 7.03 A o ensino aos negros somente era oferecido no período noturno, uma verdadeira estratégia esmagaste contra tão importante representante da força brasileira. Diante desse imperativo, necessita-se de uma maior inclusão dos educandos com a origem da sociedade brasileira, ou seja, das contribuições africanas, no desenvolvimento e história do Brasil. Tendo em vista esta temática o presente projeto foi elaborado no sentido de promover um conhecimento mais aprofundado sobre a importância da contribuição dos africanos para o desenvolvimento do nosso país, como um todo, em todos os aspectos da nossa cultura.  Considera-se que este trabalho se constitui em um dos primeiros passos para formação de uma nova geração de cidadãos autênticos que exercitam verdadeiramente o senso crítico e a ética.

3.    JUSTIFICATIVA
                           A Escola xxxxxx, empenhada com a pauta das políticas afirmativas delimitadas pelo MEC vem introduzindo em seu currículo um conjunto de ações voltadas a promover a inclusão social e a cidadania, fortalecendo assim a riqueza da diversidade étnico-racial e cultural brasileira.
                           Portanto, a fim de alcançar este objetivo lança o projeto Diversidade com cor, som e sabor que trata da diversidade cultural fundamentado na preservação e valorização da memória, uma das formas de construir a história.  Esta temática, Consciência Negra orienta-se na historicidade e no aspecto legal instituído pela Lei 10.639 de março de 2003, que torna obrigatório o ensino da História da África e dos africanos no currículo do Ensino Fundamental e Médio. A criação do dia 20 de novembro foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. Por isso se justifica a necessidade latente de abordar tema no segmento educacional.

4.     FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

                           A História do Brasil tem suas raízes do outro lado do Atlântico, ou seja, a sociedade brasileira distingue-se por uma pluralidade étnica, sendo alvitre de um processo histórico que introduziu num mesmo cenário três grupos distintos: portugueses, índios e negros de origem africana. Hoje, a sociedade brasileira vigente vive circunstâncias, como preconceito. Evidenciando a difícil inclusão social, dos negros e descendentes afros. Logo o trabalho com este tema deve originar-se nos anos iniciais, privilegiando a questão da identidade, do respeito à diversidade e da autoaceitação.
                           A obrigatoriedade do ensino da História da África no Brasil torna oportuno o trabalho voltado a “Consciência”, pois ela sinaliza o valor da conquista da liberdade deste grupo, também põe em pauta a importância de discutir a temática negra na escola. A inclusão de assuntos ligados à África e ao povo negro na educação formal é uma das estratégias para reconhecer a presença desse grupo na história do Brasil - os negros correspondem a 6,8% da população brasileira segundo o IBGE, mas os chamados "pardos" chegam a um número próximo da metade da população brasileira. Assim sendo, escolas e instituições diversas já reconhecem a importância de trabalhar a cultura negra em seu dia a dia, proporcionando reflexão crítica da realidade e afirmação positiva dos valores culturais negros pertencentes a nossa sociedade, ou seja, abre um espaço para o diálogo cultural das expressões da arte e cultura negra, desenvolvendo atividades dinâmicas e interdisciplinares.
                            Para a socióloga Antonia Garcia, doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, "É importante que se conquiste o "Dia Nacional da Consciência Negra" como o dia nacional de todos os brasileiros que lutam por uma sociedade de fato democrática, igualitária, unindo toda a classe trabalhadora num projeto de nação que contemple a diversidade engendrada no nosso processo histórico". Como a escola é um dos principais mecanismos de transformação cabe a ela neste sentido democratiza a promoção da integralidade, do respeito às diferenças características de cada grupo étnico. Assim o caminho é assumir eticamente a democracia como projeto e processo, o que não é possível sem o reconhecimento e valorização das singularidades étnico-raciais, e também sem a necessária discussão sobre as relações de poder estabelecidas pelo racismo. Diante disso a escola tem uma importante e indispensável contribuição, que passa inicialmente por uma reestruturação curricular que incorpore de forma consciente e positivamente, os princípios:
“Cabe ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que cumpre ao disposto na Constituição Federal, Art.205, que assinala o dever do Estado de garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o pleno desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou profissional” (Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, pág. 11)
                            Visando atender os propósitos expressos na LDB, bem como, a obrigação de formar sujeitos críticos, autônomos e que saibam posicionarem-se nos mais diversos temas, embasando seus argumentos em fatos e dados históricos e geográficos, o projeto articula-se as demais áreas em uma premissa interdisciplinar, buscando romper com os entraves da fragmentação disciplinar. Instrumentaliza seu trabalho em encaminhamento de reconhecimento da historia e da cultura afro-brasileira, postulando-se nas dimensões históricas, sociais, culturais e antropológicas oriundas da realidade brasileira, visando combater o racismo e a discriminação. Os encaminhamentos pedagógicos coerentes com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-Brasileira Africana esboçam as relações cotidianas de valorização da identidade, cultural e historia dos negros na formação da nossa sociedade, ou seja, esta educação requer aprendizagens de troca entre brancos e negros, a fim de construir uma sociedade justa e equânime.
“É possível abrir espaço para práticas pedagógicas que mostrem o mundo além do imaginário europeu. Corrigir equívocos históricos, que reforçam preconceitos no sistema educacional pela generalizada falta de informação sobre a questão racial e sobre o que é discriminação. Corrigir os erros que produzem baixas na auto-estima da criança negra, reforçada por atividades educacionais como a utilização de músicas e ditados pejorativos considerados “folclóricos” e, principalmente, desconstruir o mito da democracia racial brasileira”. (Rachel Oliveira).

                             A educação ao fazer esta ponte entre o passado e a construção do futuro pacificador e igualitário, dispõe de garantias de reflexão e diálogo, sobretudo de consciência social, requisito primordial para atuar como cidadão responsável na sociedade brasileira, atendendo por esta via o que prever a Constituição Federal em seu Art. 3.

5.     OBJETIVO GERAL

·         Reconhecer a importância do negro na formação da sociedade brasileira, analisando sua contribuição nas áreas: social, econômica, cultural e política através de diferenciadas atividades tanto individuais quanto em grupo.

6.     OBJETIVOS ESPECÍFICOS

·        Valorizar a cultura negra e seus afro-descendentes e afro-brasileiros, na escola e na sociedade;
·         Desmitificar o preconceito relativo aos costumes religiosos provindos da cultura Africana;
·      Trazer à tona, discussões provocantes, por meio das rodas de conversa, para um posicionamento mais crítico frente à realidade social em que vivemos;

7.     CONTEÚDOS
Língua Portuguesa
Influência lingüística africana no Brasil, origem banta já incorporada ao nosso vocabulário. Segundo Nei Lopes, no seu dicionário Banto do Brasil (1996), para se constatar palavras de origem banta (Africana) em nossa língua, basta buscar as seguintes características:

1) Presença de sílabas iniciais como Ba, Ca, Cu, Fu, Ma, Mo, Um, Qui, etc...
Exemplos:
Caçula-cadango-cachimbo
Curinga-cuca
Fubá-fuleiro-fulo
Macunba-maxixe-magé-mala-mafuá
Quitanda-quizila-quitute-quilombo-quiabo

2) Presença, no interior dos vocábulos dos grupos consonantais: mb, nd, ng. Etc. exemplos:
Banda, samba, mambo, lambada.
Bunda, umbanda, dendê, quengo, camundongo, ginga, tanga, sunga.

3) Presença de terminações como aça, ila, ita, ixe, ute, uca, etc.
Exemplos:
Macaca-quizila-catita-maxixe
Bazuca-muvuca

Lendas africanas e histórias sobre diversidade. Exemplos: Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria Machado, O Pássaro-da-Chuva, de Kersti Chaplet, e o gibi Zumbi dos Palmares (produzido em 2001 pela Editora Lake é distribuído gratuitamente) para atividades de leitura e escrita.

Matemática
Medidas de tempo, tamanho e distância;
Números fracionários, inteiros e decimais;
Adição, subtração, multiplicação e divisão;
Calendário

História
Origem dos Quilombos principalmente dos Palmares e seus remanescentes;
Datas comemorativas: 13 de maio Dia Nacional de Denúncia contra Racismo, 20 de novembro Dia da Consciência Negra, 21 de março Dia Nacional de Luta pela Eliminação da Discriminação Racial;
Organizações pré-coloniais: Reinos Moli, Congo e Zimbalwe, etc.

Geografia
Localização da África e do Brasil no mapa Mundi;
Aspectos Geográficos da África como: relevo, clima, hidrografia, vegetação, etc.

Ciências
Fauna do Brasil e da África;
Flora do Brasil e da África.

Artes
Estudo da presença negra e mestiça na arte brasileira pode partir de nome como Mestre Valentim e Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Artistas negros do século XX como Benedito José Tobias, Iêda Maria, Rubem Valentim, Mestre Didi, Ronaldo Rêgo, Otávio Araújo, Jorge dos Anjos, Emanuel Araújo. Obras de Jean Baptiste Debret (1768-1848) é possível conhecer como era o cotidiano das crianças na época da escravidão.
Danças, músicas e adereços:
As festas tradicionais brasileiras, como Maracatus, Bumba-meu-Boi, Cavalhadas, Marujadas, Folia de Reis, Festas do Divino, Congadas, constituem importantes elementos da cultura popular, carregados de valores e sentidos próprios.
Músicas: Axé music, Carimbó, Funk carioca, Lambada, Lundu, Maxixe,  Maracatu, Pagode, Samba: Mundo Negro (O Rappa); Pérola Negra (Daniela Mercury); Mamma África (Chico César); Meu ébano (Alcione); A Loirinha, O Playboy E O Negão (Kelly Key); Olhos Coloridos (Sandra de Sá).
Máscara relacionada às produções às manifestações artísticas do continente Africano.
Brinquedos e brincadeiras: Usar o iitop, o mbube-mbube (ou o tigre e o impala) e a mamba, e jogos como o yote e a mancala. Iniciar contando a história do jogo e os valores da cultura africana presentes em cada um.

Religião
Irmandades religiosas

8.     ATIVIDADES INTERDISCIPLINARES

ü  Dinâmica introdutória do projeto: Para iniciar o tema proponha aos alunos que listem duas características físicas e duas características de seu caráter/personalidade. Recolha todas as listagens e, de forma lúdica, leia uma a uma para a classe instigando os alunos a descobrirem quem é o dono de cada característica. Após a brincadeira abra uma roda de conversa levando-os a refletirem sobre a dinâmica: O que percebemos com essa vivência? Existem pessoas exatamente iguais? Permita que os alunos expressem suas opiniões e, em um segundo momento, proponha que todos se observem atentamente e analisem as diferenças entre eles, levando em consideração os tipos de cabelo, as cores dos olhos e da pele, os formatos dos narizes e dos lábios, as alturas, etc. Para criar um clima mais afetivo introduza uma música ambiente tranqüila e permita o toque caso desejem.
ü     Roda de conversa: Debate: sobre o preconceito e a discriminação, baseados na aparência.
ü  Leituras Compartilhadas: de alguns artigos do Livro: “Declaração Universal dos direitos humanos” – adaptação Ruth Rocha e Otávio Roth, 2003; e “Menina bonita do laço de fita de Maria Helena Machado, Ed. Ática, 2007, etc.;
ü  Identificação de palavras pesquisadas através de caça-palavras;
ü     Palavras Cruzadas;
ü   Exibição de vídeos (filmes e documentários) como, por exemplo, clipes: ”Missa dos quilombos” – música de Milton Nascimento, etc.;
ü    Audição, análise e ilustração da música de Milton Nascimento “Uakti – lágrimas do sul”, “O conto das três Raças” (Clara Nunes) entre outras;
ü  Estudos de música, fazendo releituras e transformando-os em ilustrações pedagógicas para uma amostra cultural;
ü  Produção de biografias em grupos ou duplas de cantores brasileiros negros, ilustradas com caricaturas produzidas nas aulas de Artes Plásticas
ü   Exploração de receitas da culinária e chás trazidos da cultura afro-brasileira, abrindo espaço para degustação através de lanche coletivo;
ü   Produção textual: receitas propondo fazer porções mágicas para acabar com o racismo, a discriminação e o preconceito;
ü     Exposição de ervas presentes principalmente na cultura afro;
ü     Leituras reflexivas de reportagens jornalísticas e textos da atualidade que tratam sobre o tema;
ü     Registro de figuras de pessoas diferentes e de pessoas que admiram;
ü     Formação de painel coletivo com personalidades negras que alcançaram a fama;
ü  Confeccionar cartazes – recorte, pintura e colagem - com fotos de revistas que tratam da diversidade étnica brasileira e a cultura do negro (imagens de crianças do mundo inteiro, das diversas religiões, como se vestem e como são diferentes).
ü  Ilustrações dos trabalhos de Candido Portinari – “Menina com tranças e laços” fazendo uma analogia com o livro “Menina bonita do laço de fita” e “cabeça de negro”;
ü    Audição de músicas da cultura africana como o samba, a batucada;
ü    Confecção de chocalhos, atabaque e berimbau
ü    Construção de máscaras africanas;
ü     Pesquisas de músicas tipicamente africanas;
ü     Pesquisas de outras canções que abordam o tema;
ü     Criação, elaboração e montagem de coreografias;
ü     Criação e confecção de figurinos, adereços e instrumentos de percussão
ü     Releitura das obras de arte com argila ou papel marche estátuas de personagens negros;
ü     Produção em artes com sucatas podem ser confeccionados bonecos negros, personagens que podem interagir através de dramatizações;
ü     Observação do mapa mundi para localização do Brasil, África, Portugal;
ü      Verificação do caminho geográfico feito da África para o Brasil por meio do mapa Mundi;
ü      Construção de maquete de um quilombo;
ü       Exploração do calendário anual com observação de datas que marcam a história de negro;
ü      Júri Simulado: É uma técnica de aprendizagem que simula um julgamento, onde os alunos têm a oportunidade de argumentar e apresentas provas e evidências a favor ou contra o que está sendo julgado. Além da força da argumentação que se evidência, destaca-se a necessidade de emitir um julgamento de valor entre outros aspectos relevantes que podem ser trabalhados.



9.     CULMINÂNCIA
Exposição com os materiais coletados e produzidos pelas crianças em conjunto com o professor para que sejam apresentados em um mural na escola.

1   AVALIAÇÃO
A avaliação se constituirá em processo contínuo durante todo o projeto, de forma coletiva, nos momentos de trabalho e pesquisa, contar-se-á com a participação nas discussões e individualmente nas atividades realizadas, bem como na compreensão dos conceitos abordados.

  1 REFERÊNCIAS
Brasil. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília. Jun. 2005.
DIEESE - Reportagem da revista Com Ciência, editada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, SBPC
Menezes, Waléria. O Preconceito Racial e suas Repercussões na Instituição Escola. Disponível em http://www.fundaj.gov.br/tpd/147.html
Santos, Genivaldo Pereira dos. Projeto Cultural - Um Olhar Negro. Disponível em: http://www.mundojovem.com.br/datas-comemorativas/consciencia-negra/projeto-consciencia-negra-um-olhar-negro.php

Consciência Negra. Paty Fonte. Disponível em: http://www.projetospedagogicosdinamicos.com/negro.htm

 




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