“Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo
louro, traz na alma, quando não no corpo, a sombra, ou pelo menos a pinta, do
indígena ou do negro...”
Gilberto Freyre, Casa Grade
e Senzala
1. IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO
Escola:
Tema: Diversidade
com cor, som e sabor.
Tempo
de execução: Mês de novembro
Culminância:
Características:
Projeto
Interdisciplinar.
Público
Alvo: Anos Iniciais do Ensino Fundamental
2. PROBLEMATIZAÇÃO
O estudo
institucional da sociedade brasileira revela uma disposição funcional de
consentimento à discriminação e ao racismo, que até hoje é alvo de inúmeros
protestos, mesmo dentro do campo educacional, ficou registrado os astutos laços
de superioridade elegida pelo homem branco, a exemplo os dispositivos da
Educação no Brasil Colônia. No decreto 1.331
de 17 de fevereiro de 1854 estabelecia a proibição de escravos nas escolas
públicas, mais adiante em 1878 no decreto 7.03 A o ensino aos negros somente
era oferecido no período noturno, uma verdadeira estratégia esmagaste contra
tão importante representante da força brasileira. Diante desse imperativo, necessita-se
de uma maior inclusão dos educandos com a origem da sociedade brasileira, ou
seja, das contribuições africanas, no desenvolvimento e história do Brasil. Tendo
em vista esta temática o presente projeto foi elaborado no sentido de promover
um conhecimento mais aprofundado sobre a importância da contribuição dos
africanos para o desenvolvimento do nosso país, como um todo, em todos os
aspectos da nossa cultura. Considera-se
que este trabalho se constitui em um dos primeiros passos para formação de uma
nova geração de cidadãos autênticos que exercitam verdadeiramente o senso
crítico e a ética.
3. JUSTIFICATIVA
A Escola xxxxxx, empenhada com a pauta das políticas afirmativas delimitadas
pelo MEC vem introduzindo em seu currículo um conjunto de ações voltadas a
promover a inclusão social e a cidadania, fortalecendo assim a riqueza da
diversidade étnico-racial e cultural brasileira.
Portanto, a fim de alcançar este objetivo
lança o projeto Diversidade com cor, som e sabor que trata da diversidade
cultural fundamentado na preservação e valorização da memória, uma das formas
de construir a história. Esta temática, Consciência
Negra orienta-se na historicidade e no aspecto legal instituído pela Lei 10.639
de março de 2003, que torna obrigatório o ensino da História da África e dos
africanos no currículo do Ensino Fundamental e Médio. A
criação do dia 20 de novembro foi importante, pois serve como um momento de
conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na
formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante
nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de
nosso país. Por isso se justifica a necessidade latente de abordar tema no
segmento educacional.
4. FUNDAMENTAÇÃO
TEÓRICA
A História do Brasil tem suas raízes do
outro lado do Atlântico, ou seja, a sociedade brasileira distingue-se por uma
pluralidade étnica, sendo alvitre de um processo histórico que introduziu num
mesmo cenário três grupos distintos: portugueses, índios e negros de origem
africana. Hoje, a sociedade brasileira vigente vive circunstâncias, como
preconceito. Evidenciando a difícil inclusão social, dos negros e descendentes
afros. Logo o trabalho com este tema deve originar-se nos anos iniciais,
privilegiando a questão da identidade, do respeito à diversidade e da
autoaceitação.
A
obrigatoriedade do ensino da História da África no Brasil torna oportuno o
trabalho voltado a “Consciência”, pois ela sinaliza o
valor da conquista da liberdade deste grupo, também põe em pauta a importância
de discutir a temática negra
na escola. A inclusão de assuntos ligados à África e ao povo negro na educação
formal é uma das estratégias para reconhecer a presença desse grupo na história
do Brasil - os negros correspondem a 6,8% da população brasileira segundo
o IBGE, mas os chamados "pardos" chegam a um número próximo da metade
da população brasileira. Assim sendo, escolas e instituições diversas já
reconhecem a importância de trabalhar a cultura
negra em seu dia a dia, proporcionando reflexão crítica da
realidade e afirmação positiva dos valores culturais negros pertencentes a
nossa sociedade, ou seja, abre um espaço para o diálogo cultural das expressões
da arte e cultura negra, desenvolvendo atividades dinâmicas e
interdisciplinares.
Para a socióloga
Antonia Garcia, doutoranda do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, "É importante que se
conquiste o "Dia Nacional da Consciência Negra" como o dia nacional
de todos os brasileiros que lutam por uma sociedade de fato democrática,
igualitária, unindo toda a classe trabalhadora num projeto de nação que
contemple a diversidade engendrada no nosso processo histórico". Como a
escola é um dos principais mecanismos de transformação cabe a ela neste sentido
democratiza a promoção da integralidade, do respeito às diferenças
características de cada grupo étnico. Assim o caminho é assumir eticamente a
democracia como projeto e processo, o que não é possível sem o reconhecimento e
valorização das singularidades étnico-raciais, e também sem a necessária
discussão sobre as relações de poder estabelecidas pelo racismo. Diante disso a
escola tem uma importante e indispensável contribuição, que passa inicialmente
por uma reestruturação curricular que incorpore de forma consciente e
positivamente, os princípios:
“Cabe
ao Estado promover e incentivar políticas de reparações, no que cumpre ao
disposto na Constituição Federal, Art.205, que assinala o dever do Estado de
garantir indistintamente, por meio da educação, iguais direitos para o pleno
desenvolvimento de todos e de cada um, enquanto pessoa, cidadão ou
profissional” (Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana,
pág. 11)
Visando atender os
propósitos expressos na LDB, bem como, a obrigação de formar sujeitos críticos,
autônomos e que saibam posicionarem-se nos mais diversos temas, embasando seus
argumentos em fatos e dados históricos e geográficos, o projeto articula-se as
demais áreas em uma premissa interdisciplinar, buscando romper com os entraves
da fragmentação disciplinar. Instrumentaliza seu trabalho em encaminhamento de
reconhecimento da historia e da cultura afro-brasileira, postulando-se nas
dimensões históricas, sociais, culturais e antropológicas oriundas da realidade
brasileira, visando combater o racismo e a discriminação. Os encaminhamentos
pedagógicos coerentes com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação
das Relações Étnico-Raciais e Cultura Afro-Brasileira Africana esboçam as
relações cotidianas de valorização da identidade, cultural e historia dos
negros na formação da nossa sociedade, ou seja, esta educação requer
aprendizagens de troca entre brancos e negros, a fim de construir uma sociedade
justa e equânime.
“É possível abrir espaço para práticas
pedagógicas que mostrem o mundo além do imaginário europeu. Corrigir equívocos
históricos, que reforçam preconceitos no sistema educacional pela generalizada
falta de informação sobre a questão racial e sobre o que é discriminação.
Corrigir os erros que produzem baixas na auto-estima da criança negra,
reforçada por atividades educacionais como a utilização de músicas e ditados
pejorativos considerados “folclóricos” e, principalmente, desconstruir o mito
da democracia racial brasileira”. (Rachel Oliveira).
A educação ao fazer esta ponte entre o passado
e a construção do futuro pacificador e igualitário, dispõe de garantias de
reflexão e diálogo, sobretudo de consciência social, requisito primordial para
atuar como cidadão responsável na sociedade brasileira, atendendo por esta via
o que prever a Constituição Federal em seu Art. 3.
5. OBJETIVO
GERAL
·
Reconhecer a importância do negro na formação
da sociedade brasileira, analisando sua contribuição nas áreas: social,
econômica, cultural e política através de diferenciadas atividades tanto
individuais quanto em grupo.
6. OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
· Valorizar a cultura negra e seus
afro-descendentes e afro-brasileiros, na escola e na sociedade;
·
Desmitificar o preconceito relativo aos
costumes religiosos provindos da cultura Africana;
· Trazer à tona, discussões provocantes, por
meio das rodas de conversa, para um posicionamento mais crítico frente à realidade
social em que vivemos;
7. CONTEÚDOS
Língua
Portuguesa
Influência lingüística
africana no Brasil, origem banta já incorporada ao nosso vocabulário. Segundo
Nei Lopes, no seu dicionário Banto do Brasil (1996), para se constatar palavras
de origem banta (Africana) em nossa língua, basta buscar as seguintes
características:
1) Presença de sílabas
iniciais como Ba, Ca, Cu, Fu, Ma, Mo, Um, Qui, etc...
Exemplos:
Caçula-cadango-cachimbo
Curinga-cuca
Fubá-fuleiro-fulo
Macunba-maxixe-magé-mala-mafuá
Quitanda-quizila-quitute-quilombo-quiabo
2) Presença, no interior dos
vocábulos dos grupos consonantais: mb, nd, ng. Etc. exemplos:
Banda, samba, mambo, lambada.
Bunda, umbanda, dendê, quengo, camundongo,
ginga, tanga, sunga.
3) Presença de terminações
como aça, ila, ita, ixe, ute, uca, etc.
Exemplos:
Macaca-quizila-catita-maxixe
Bazuca-muvuca
Lendas africanas e histórias
sobre diversidade. Exemplos: Menina Bonita do Laço de Fita, de Ana Maria
Machado, O Pássaro-da-Chuva, de Kersti Chaplet, e o gibi Zumbi dos Palmares
(produzido em 2001 pela Editora Lake é distribuído gratuitamente) para
atividades de leitura e escrita.
Matemática
Medidas
de tempo, tamanho e distância;
Números
fracionários, inteiros e decimais;
Adição,
subtração, multiplicação e divisão;
Calendário
História
Origem dos Quilombos
principalmente dos Palmares e seus remanescentes;
Datas comemorativas: 13 de
maio Dia Nacional de Denúncia contra Racismo, 20 de novembro Dia da Consciência
Negra, 21 de março Dia Nacional de Luta pela Eliminação da Discriminação
Racial;
Organizações pré-coloniais:
Reinos Moli, Congo e Zimbalwe, etc.
Geografia
Localização
da África e do Brasil no mapa Mundi;
Aspectos
Geográficos da África como: relevo, clima, hidrografia, vegetação, etc.
Ciências
Fauna do Brasil e da África;
Flora do Brasil e da África.
Artes
Estudo da presença negra e mestiça na arte brasileira pode partir de
nome como Mestre Valentim e Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho. Artistas
negros do século XX como Benedito José Tobias, Iêda Maria, Rubem Valentim,
Mestre Didi, Ronaldo Rêgo, Otávio Araújo, Jorge dos Anjos, Emanuel Araújo. Obras
de Jean Baptiste Debret (1768-1848) é possível conhecer como era o cotidiano
das crianças na época da escravidão.
Danças, músicas e adereços:
As festas
tradicionais brasileiras, como Maracatus, Bumba-meu-Boi, Cavalhadas, Marujadas,
Folia de Reis, Festas do Divino, Congadas, constituem importantes elementos da
cultura popular, carregados de valores e sentidos próprios.
Músicas: Axé music, Carimbó, Funk carioca, Lambada, Lundu,
Maxixe, Maracatu, Pagode, Samba: Mundo
Negro (O Rappa); Pérola Negra (Daniela Mercury); Mamma África (Chico César);
Meu ébano (Alcione); A Loirinha, O Playboy E O Negão (Kelly Key); Olhos
Coloridos (Sandra de Sá).
Máscara
relacionada às produções às manifestações artísticas do continente Africano.
Brinquedos
e brincadeiras: Usar o iitop, o mbube-mbube (ou o tigre e o impala) e a mamba,
e jogos como o yote e a mancala. Iniciar contando a história do jogo e os
valores da cultura africana presentes em cada um.
Religião
Irmandades
religiosas
8. ATIVIDADES
INTERDISCIPLINARES
ü Dinâmica
introdutória do projeto: Para iniciar o tema proponha aos alunos que listem
duas características físicas e duas características de seu
caráter/personalidade. Recolha todas as listagens e, de forma lúdica, leia uma
a uma para a classe instigando os alunos a descobrirem quem é o dono de cada
característica. Após a brincadeira abra uma roda de conversa levando-os a
refletirem sobre a dinâmica: O que percebemos com essa vivência? Existem
pessoas exatamente iguais? Permita que os alunos expressem suas opiniões e, em
um segundo momento, proponha que todos se observem atentamente e analisem as
diferenças entre eles, levando em consideração os tipos de cabelo, as cores dos
olhos e da pele, os formatos dos narizes e dos lábios, as alturas, etc. Para
criar um clima mais afetivo introduza uma música ambiente tranqüila e permita o
toque caso desejem.
ü Roda de
conversa: Debate: sobre o preconceito e a discriminação, baseados na aparência.
ü Leituras
Compartilhadas: de alguns artigos do Livro: “Declaração Universal dos direitos
humanos” – adaptação Ruth Rocha e Otávio Roth, 2003; e “Menina bonita do laço
de fita de Maria Helena Machado, Ed. Ática, 2007, etc.;
ü Identificação
de palavras pesquisadas através de caça-palavras;
ü Palavras Cruzadas;
ü Exibição
de vídeos (filmes e documentários) como, por exemplo, clipes:
”Missa dos quilombos” – música de Milton Nascimento, etc.;
ü Audição,
análise e ilustração da música de Milton Nascimento “Uakti – lágrimas do sul”,
“O conto das três Raças” (Clara Nunes) entre outras;
ü Estudos
de música, fazendo releituras e transformando-os em ilustrações pedagógicas
para uma amostra cultural;
ü Produção
de biografias em grupos ou duplas de cantores brasileiros negros, ilustradas
com caricaturas produzidas nas aulas de Artes Plásticas
ü Exploração
de receitas da culinária e chás trazidos da cultura afro-brasileira, abrindo espaço
para degustação através de lanche coletivo;
ü Produção
textual: receitas propondo fazer porções mágicas para acabar com o racismo, a discriminação
e o preconceito;
ü Exposição
de ervas presentes principalmente na cultura afro;
ü Leituras
reflexivas de reportagens jornalísticas e textos da atualidade que tratam sobre
o tema;
ü Registro
de figuras de pessoas diferentes e de pessoas que admiram;
ü Formação
de painel coletivo com personalidades negras que alcançaram a fama;
ü Confeccionar
cartazes – recorte, pintura e colagem - com fotos de revistas que tratam da
diversidade étnica brasileira e a cultura do negro (imagens
de crianças do mundo inteiro, das diversas religiões, como se vestem e como são
diferentes).
ü Ilustrações
dos trabalhos de Candido Portinari – “Menina com tranças e laços” fazendo uma
analogia com o livro “Menina bonita do laço de fita” e “cabeça de negro”;
ü Audição
de músicas da cultura africana como o samba, a batucada;
ü Confecção
de chocalhos, atabaque e berimbau
ü Construção
de máscaras africanas;
ü Pesquisas
de músicas tipicamente africanas;
ü Pesquisas
de outras canções que abordam o tema;
ü Criação, elaboração
e montagem de coreografias;
ü Criação e
confecção de figurinos, adereços e instrumentos de percussão
ü Releitura
das obras de arte com argila ou papel marche estátuas de personagens negros;
ü Produção
em artes com sucatas podem ser confeccionados bonecos negros, personagens que podem interagir através de dramatizações;
ü Observação
do mapa mundi para localização do Brasil, África, Portugal;
ü Verificação
do caminho geográfico feito da África para o Brasil por meio do mapa Mundi;
ü Construção
de maquete de um quilombo;
ü Exploração
do calendário anual com observação de datas que marcam a história de negro;
ü Júri Simulado: É uma técnica de
aprendizagem que simula um julgamento, onde os alunos têm a oportunidade de
argumentar e apresentas provas e evidências a favor ou contra o que está sendo
julgado. Além da força da argumentação que se evidência, destaca-se a
necessidade de emitir um julgamento de valor entre outros aspectos relevantes
que podem ser trabalhados.
9. CULMINÂNCIA
Exposição
com os materiais coletados e produzidos pelas crianças em conjunto com o
professor para que sejam apresentados em um mural na escola.
1 AVALIAÇÃO
A avaliação se constituirá
em processo contínuo durante todo o projeto, de forma coletiva, nos momentos de
trabalho e pesquisa, contar-se-á com a participação nas discussões e
individualmente nas atividades realizadas, bem como na compreensão dos
conceitos abordados.
1 REFERÊNCIAS
Brasil.
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e
para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília. Jun.
2005.
DIEESE
- Reportagem da revista Com Ciência, editada pela Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência, SBPC
Menezes, Waléria. O
Preconceito Racial e suas Repercussões na Instituição Escola. Disponível em http://www.fundaj.gov.br/tpd/147.html
Consciência Negra na escola. Disponível em: http://e-educador.com/index.php/em-foco-mainmenu-101/374-consciia-negra
Santos, Genivaldo Pereira dos. Projeto Cultural - Um Olhar Negro.
Disponível em: http://www.mundojovem.com.br/datas-comemorativas/consciencia-negra/projeto-consciencia-negra-um-olhar-negro.php
Dia da Consciência Negra http://recreionline.abril.com.br/fique_dentro/conhecimento/datas/conteudo_105641.shtml
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