Mais em alta do que nunca, a Mobilização Social pela Educação
conquistou um lugar entre as prioridades do novo governo. Prova disso,
foi a ênfase que a presidenta Dilma Rousseff deu ao tema em seu primeiro
pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão realizado no
último dia 10 de fevereiro. Em sua fala, Dilma convocou os brasileiros a
lutarem por esta causa e disse: “Nenhuma área pode unir melhor a
sociedade que a educação. Nenhuma ferramenta é mais decisiva do que ela
para superarmos a pobreza e a miséria”.
Para discutir essa questão tão prioritária, o Blog Educação convidou a
responsável pela área de Mobilização Social do Ministério da Educação
(MEC), e também assessora do ministro Fernando Haddad, Linda Goulart,
para um bate-papo. Durante a conversa, Linda fala dos avanços já
alcançados com as ações do Plano de Mobilização Social pela Educação, dá
exemplos de estratégias bem sucedidas usadas na sensibilização das
famílias e destaca os desafios que o país ainda tem pela frente na busca
por um ensino de qualidade e acessível a todos.
Vale lembrar que o Plano de Mobilização Social é um chamado do
Ministério da Educação à sociedade para o trabalho voluntário de
mobilização das famílias e da comunidade pela melhoria da qualidade da
educação. Lançado em maio de 2008 pelo governo, é hoje um dos pilares do
Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE).
Quer saber mais sobre esse importante trabalho e de que forma você
também pode contribuir para a causa da educação? Confira, então, a
entrevista exclusiva com Linda Goulart:
1. Qual foi o grande destaque do trabalho de mobilização social pela educação realizado pelo MEC em 2010?
No geral, tivemos muitos
avanços. Cito alguns, como a definição mais clara da lógica da
mobilização, que aponta a necessidade de políticas intersetoriais que
criem uma rede articulada de proteção às crianças e suas famílias. Isso
significa ação integrada entre educação, saúde, desenvolvimento social,
justiça, cultura, trabalho e emprego. Para nós está claro que,
considerando o perfil dos alunos da escola pública, só essa ação
articulada cria condições para garantir o direito de aprender.
Outro destaque foi a
inclusão da mobilização social pela educação no Plano Nacional de
Educação (PNE). O PNE estabelece, na meta sete, que o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) será usado para avaliar a
qualidade do ensino. Dentre as estratégias definidas para o seu alcance,
duas dizem respeito específico à mobilização social. Uma fala
justamente sobre a importância da interação entre a educação
formal com experiências de educação popular e cidadã, com os propósitos
de que a educação seja assumida como responsabilidade de todos, e
a outra apresenta essa questão da articulação dos programas da área da
educação, com os de outras áreas, possibilitando a criação de uma rede
de apoio integral às famílias.
Vale citar também a
ampliação do alcance das ações de mobilização, seja pelo trabalho dos
voluntários das instituições religiosas, seja pelo trabalho de
parceiros, como o Instituto Votorantim, ou ainda pelas secretarias de
educação que têm aderido ao projeto. A participação das secretarias é
outro fator que gostaria de destacar, porque elas têm a grande
responsabilidade de motivar e induzir suas escolas a promover a
interação família/escola/comunidade.
2. Quais são os principais desafios para 2011? Existe alguma novidade prevista para este ano?
Definimos como estratégia
para 2011 a atuação focada em territórios. Fizemos um mapeamento de
todos os voluntários que integram a nossa rede, localizando-os
espacialmente. Em seguida, a partir desses territórios, identificamos as
meso e as microrregiões, relacionando os mobilizadores atuantes nessas
áreas. Considerando a lógica da mobilização, o esforço será consolidar a
base atual e ampliá-la, buscando parceiros que viabilizem a lógica
nesses territórios. Assim, antes de agregarmos novos mobilizadores
indistintamente, vamos focar nas regiões em torno dos territórios onde
já existem essas ações e procurar complementações que envolvam famílias,
escolas e órgãos e entidades de apoio à proteção da criança e do
adolescente e de suas famílias.
3. A presidenta Dilma Rousseff tem citado a questão da mobilização
pela educação em alguns de seus pronunciamentos. Como o tema tem sido
encarado nessa nova gestão do Governo Federal?
Ficamos muito felizes de a
presidenta Dilma Rousseff ter dedicado seu primeiro pronunciamento
público ao país à prioridade que o governo dará à educação e o
entendimento do papel da educação em qualquer estratégia de
desenvolvimento. O destaque à mobilização social, quando ela se colocou
desejosa de, como presidenta, mãe e avó a liderar esse movimento,
certamente dará força aos esforços que o Ministério da Educação vem
fazendo desde que o ministro Fernando Haddad lançou o Plano de
Desenvolvimento da Educação, em 2007. Acreditamos que ela dará seu apoio
às nossas buscas de parcerias com os demais ministérios para a
articulação dessa rede de proteção que mencionei anteriormente.
4. Quantos mobilizadores já foram capacitados pela área de mobilização do MEC?
Realizamos 61 oficinas,
pelas quais passaram mais de 3 mil mobilizadores. Nossa equipe calcula
que esse número seja bem maior, já que os mobilizadores capacitados têm
realizado oficinas com seus públicos sem que isso chegue ao nosso
conhecimento. Aliás, essa é uma característica da mobilização social – a
ampliação das ações fora de nossa esfera – e, sempre que tomamos
conhecimento de alguma iniciativa que não tenha passado por nós,
consideramos que o projeto está sendo bem sucedido.
5. Ao longo destes anos de trabalho, é possível elencar quais as
melhores estratégias para sensibilizar e engajar famílias sobre o valor
da educação?
São várias as estratégias.
Penso que o trabalho contínuo, diria até rotineiro, de mostrar às
famílias que educação de qualidade para seus filhos é dever do estado e,
portanto, elas têm o direito de exigir isso, é essencial, além de
apresentar, com exemplos concretos, os benefícios futuros que os filhos
terão com a educação. É uma tarefa permanente e que exige muito esforço,
dedicação e a crença de que ele pode dar resultados. Isso porque,
infelizmente, as famílias ainda pensam que educação é privilégio para
poucos e só o fato de haver escola para todos, com merenda, livro
didático, computadores, transporte escolar, já está bom demais.
Convencê-las de que o direito de aprender tem que estar no centro de
suas preocupações, dá trabalho.
É importante atrair para a mobilização pessoas e entidades que exerçam um papel de liderança junto às famílias e que tenham credibilidade. Se
o padre, o pastor e o empregador se engajarem nessa luta cotidiana, por
exemplo, as famílias vão se convencer. Assim como as lideranças
comunitárias, os donos ou gerentes dos estabelecimentos que as famílias
costumam frequentar, que também precisam ser convencidos de que devem
fazer sua parte nessa “batalha”. Não devemos esquecer, é claro, do papel
central que a escola ocupa nesse processo. Se a escola não quiser, a
família não entra. Se a escola quiser e fizer realmente esforços
concretos para conhecer essas famílias, valorizar seus saberes e apoiar
os alunos, essa interação ficará muito mais fácil.
6. Como tem sido o trabalho com as entidades religiosas na mobilização de famílias Brasil afora?
As instituições religiosas
têm sido nossos grandes parceiros nesse projeto. Estão engajadas desde o
início, participaram da elaboração da cartilha e seus voluntários têm
relatado casos de mobilização fantásticos. Temos hoje em nossa rede
voluntários de quase todas as igrejas cristãs. No Rio de Janeiro, já
contamos com pessoas ligadas a instituições fora do campo cristão. É
importante destacar que essas instituições têm atuado lado a lado nos
comitês e nas ações empreendidas em suas comunidades, mostrando que a
educação consegue uni-las, relativizando as diferenças que existem entre
elas.
7. Como você vê a participação das empresas em iniciativas voltadas à mobilização social pela educação?
Como já mencionei, as
empresas são, ao lado das igrejas, as grandes forças que podem mobilizar
as famílias. Todo pai, toda mãe, todo parente de estudante tem algum
vínculo com as empresas. Seja como empregado, seja como beneficiário de
algum projeto social que elas desenvolvem na comunidade. Imaginemos um
cenário em que um número expressivo de empresas usasse todos os seus
recursos de comunicação para levar a mensagem da educação como direito
da família e dos deveres que seus empregados têm em relação à vida
escolar dos filhos e dependentes. Seria uma colaboração valiosa. Se a
isso se agregasse a iniciativa de mobilizar as famílias das comunidades
onde ela tem alguma unidade ou algum tipo de atuação, seria
extraordinário. Nos municípios menores, a empresa é respeitada pelo
prefeito, pelos vereadores, pelas lideranças locais. O impacto de suas
ações é muito grande e, mobilizar pela educação, faz parte de sua
responsabilidade social.
8. A cartilha “Acompanhem a vida escolar dos seus filhos” tem sido
uma importante ferramenta para a mobilização de famílias. Quantos
exemplares já foram distribuídos? O MEC continuará editando essa
publicação?
A cartilha é a principal
ferramenta da mobilização. Ela é muito simples, direta e sua mensagem é
clara. E equilibra bem a noção de direitos e deveres das famílias em
relação à vida escolar de seus dependentes. Faz um sucesso enorme onde é
distribuída e seu conteúdo é trabalhado. Mais de três milhões de
exemplares já foram entregues em todo o país. Isso sem contar as
iniciativas de parceiros, como empresas, ONGs e secretarias de educação
que também imprimiram e distribuíram as cartilhas. Estamos agora
iniciando o processo de licitação para imprimirmos mais exemplares para
serem distribuídos pelos voluntários. E estamos também buscando
parcerias para que essa impressão ocorra mais rapidamente, porque os
estoques estão se esgotando e os mobilizadores têm nos pedido
insistentemente o envio de novos lotes.
9. Alguma experiência de mobilização que você observou é icônica deste trabalho? É possível descrever um caso de sucesso?
Costumo dizer que toda
experiência é relevante. E não é só retórico, o importante é que alguém
faça alguma coisa. Pode ser apenas junto aos pais e mães de sua família
ou de seu trabalho. Pode ser, também, por lideranças religiosas, que
alcançam milhares de pessoas em suas celebrações. Ou por empresas, que
falam para seus empregados e colaboradores. Ou, ainda, pelas
secretarias, que disseminam a mobilização nas escolas de suas redes.
Tenho me emocionado muito com os relatos que escuto e com as ações que
vejo em cada viagem que faço pelo Brasil. Sugiro que os interessados
consultem nosso site e o blog da mobilização para ver muitos desses
relatos. E que façam sua própria escolha. Eu, realmente, não seria capaz
de dizer se uma tem mais sucesso do que outra. Os endereços são www.mse.mec.gov.br e http://famíliaeducadora.blogspot.com.
10. Que mensagem você gostaria de deixar para os mobilizadores de todo o Brasil que acompanham o Blog Educação?
Continuem mobilizando, não
se deixem abater por aquilo que vêem como fracasso. A tarefa é árdua,
requer esforço e dedicação. Vi muitos mobilizadores do projeto
‘Parceria’ , do Instituto Votorantim, em ação e fiquei também emocionada
com o que eles estão fazendo em comunidades tão distantes. Corro o
risco de cometer injustiças por não citar outros, mas menciono aqui
alguns que eu conheci de perto: Fortaleza de Minas (MG), Conceição
da Barra (ES) e Nova Viçosa (BA). Sei que esforços semelhantes estão
sendo feitos em vários outros municípios de muitos estados. Enfatizo
ainda que basta um pouco de estímulo e confiança na capacidade de
nossos jovens em aprenderem, para que eles produzam resultados
formidáveis. Vale a pena e o Brasil agradece.
Por Cleide Quinália com colaboração de Rodrigo Bueno / Blog Educação
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