sexta-feira, 8 de julho de 2011

Amanda Gurgel recusa prêmio do PNBE

Amanda Gurgel, aquela mesma do vídeo que bombou na internet, recusou o prêmio "Brasileiros de Valor 2011", do Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE). Circula na internet a carta, reproduzida abaixo, que a professora teria enviado ao júri do prêmio.

Natal, 02 de julho de 2011


Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, "pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação". A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que, após um curto e angustiante período de exercício da docência, exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho. Embora exista desde 1994, esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva. A minha luta é muito diferente da dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual à de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto sejam destinados imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores, sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade. Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas "organizações da sociedade civil de interesse público" (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB sejam destinados exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal. Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.  
Saudações,

Professora Amanda Gurgel

2 comentários:

Anônimo disse...

SOU PROFESSORA DE ARTE EM COLINA SP E APROVO A DECISÃO DE AMANDA POIS NÃO CONCORDO COM ESTE MODELO DEMAGOGO DA EDUCAÇÃO E O ENSINO, PROFESSORES E ALUNOS ESTAM CADA VEZ MAIS DESVALORIZADOS. EU TAMBÉM TENHO IDEAIS.

Anônimo disse...

Parabéns Amanda pela decisão, sou estudante de licenciatura e é por me identificar com pessoas com os ideias parecidos com as seus que ainda tenho esperança de que nossa profissão um dia será valorizada.Não faço licenciatura por dinheiro, mas sim por realização pessoal, todavia não posso viver em uma utopia, tenho todo um sonho de família a construir e necessito de condições minímas para supri-los.

Lázaro F.

ESTREITANDO OS LAÇOS ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA

    PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Temática: Escola em Família      Introdução: A parceria entre escola e família sustenta um mei...