Amanda Gurgel, aquela mesma do vídeo que bombou na internet,
recusou o prêmio "Brasileiros de Valor 2011", do Pensamento Nacional de
Bases Empresariais (PNBE). Circula na internet a carta, reproduzida
abaixo, que a professora teria enviado ao júri do prêmio.
Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,
Recebi
comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de
2011 na categoria Educador de Valor, "pela relevante posição a favor da
dignidade humana e o amor a educação". A premiação é importante
reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel
central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática
situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma
inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as
péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das
secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez
maior o número de professores talentosos que, após um curto e
angustiante período de exercício da docência, exonera-se em busca de
melhores condições de vida e trabalho. Embora
exista desde 1994, esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a
uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua
categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de
mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora
Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da
educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele
corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's,
Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como
Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva. A
minha luta é muito diferente da dessas instituições, empresas e
personalidades. Minha luta é igual à de milhares de professores da rede
pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela
valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto
sejam destinados imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa
luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE.
Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve
sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento
dos professores, sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo
empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria,
mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade
que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem
público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de
vista sua finalidade. Oponho-me
à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas
"organizações da sociedade civil de interesse público" (Oscips),
utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino
público. Defendo que 10% do PIB sejam destinados exclusivamente para
instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum
centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou
parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade
de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal. Por
essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria
renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em
uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito
embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha
sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do
Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas.
Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus
companheiros e longe dos empresários da educação.
Saudações,
Professora Amanda Gurgel
2 comentários:
SOU PROFESSORA DE ARTE EM COLINA SP E APROVO A DECISÃO DE AMANDA POIS NÃO CONCORDO COM ESTE MODELO DEMAGOGO DA EDUCAÇÃO E O ENSINO, PROFESSORES E ALUNOS ESTAM CADA VEZ MAIS DESVALORIZADOS. EU TAMBÉM TENHO IDEAIS.
Parabéns Amanda pela decisão, sou estudante de licenciatura e é por me identificar com pessoas com os ideias parecidos com as seus que ainda tenho esperança de que nossa profissão um dia será valorizada.Não faço licenciatura por dinheiro, mas sim por realização pessoal, todavia não posso viver em uma utopia, tenho todo um sonho de família a construir e necessito de condições minímas para supri-los.
Lázaro F.
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