PARADIGMA TRADICIONAL – 1A
FASE
AVALIAÇÃO COMO MEDIDA / TESTES
PSICOLÓGICOS
começo do século XX até a década de 30 ® avaliação identificada com medida
predominância de testes e exames padronizados e objetivos,
com finalidade classificatória
base conceitual ® psicologia /
psicometria (técnicas quantitativas de medida da inteligência e do desempenho
humano)
concepção racionalista-empirista, com ênfase em escalas
quantitativas e em sistemas de notação, verificação e controle
modelo inspirado nas ciências da natureza
Ø
dispositivos experimentais
Ø
controle de variáveis
Ø
confirmação de hipóteses
Ø
generalização dos resultados
Ø
estabilidade das conclusões
Ø
possibilidade de repetição dos resultados observados
Ø
objetividade das investigações
Ø
rigor e precisão dos instrumentos e ferramentas de pesquisa
Ø
estatísticas, quantificação
Ø busca das causas
dos efeitos constatados (supondo-se haver entre eles uma ligação automática e
natural)
PARADIGMA TRADICIONAL – 2A FASE
AVALIAÇÃO POR OBJETIVOS
Ddo final dos anos 30 ao começo dos anos 60 ® mudança de enfoque da
avaliação, determinada pela necessidade de recuperação econômica
e pela expansão da indústria norte-americana (o incremento e o
controle adequado dos programas educacionais eram vistos como uma condição do
desenvolvimento do país)
Controle dos resultados dependia da definição
prévia de objetivos programáticos; o rendimento
individual do aluno era medido tendo em vista um programa de ensino ou
currículo – seria verificado o alcance de cada objetivo através da observação
de mudanças comportamentais
Preocupação com a elaboração dos testes, que deviam ser válidos
(avaliar o que realmente pretendiam avaliar) e fidedignos
(oferecer resultados confiáveis), bem como com a quantificação de produtos, o
controle e a seleção, tudo isso com vistas a uma gestão eficaz do ensino
A avaliação por objetivos era fundada nas mesmas bases do
modelo anterior: positivismo, racionalidade instrumental, lógica
utilitarista
Configura-se, então, um novo modelo: o da avaliação
como gestão, engendrado sob o princípio de que uma administração
racional e eficiente da educação geraria a qualidade e a excelência;
no quadro de uma ciência estruturalista, dá-se uma mudança de
objeto: a avaliação é deslocada da medição para a descrição e o gerenciamento
dos sistemas; avaliar é otimizar, controlar a funcionalidade, evitar
desperdícios, racionalizar
Os objetivos, enquanto alvos a alcançar,
passam a ser dominantes nesse segundo modelo
PARADIGMA TRADICIONAL – 2A FASE
AVALIAÇÃO POR OBJETIVOS (Cont.)
Tratava-se de estipular o que o aprendiz devia ser capaz
de fazer ao final do processo de ensino-aprendizagem
seqüência de ações
1. estabelecer
com precisão, e antecipadamente, todos os objetivos do programa
2. elaborar
situações de ensino, de modo a provocar comportamentos observáveis
3. buscar a
coerência do processo ensino-aprendizagem por meio de seqüências didáticas
adequadas
4. comunicar os
objetivos no sentido de orientar os esforços dos alunos para atingi-los
PARADIGMA TRADICIONAL – 2A FASE
AVALIAÇÃO POR OBJETIVOS (Cont.)
O paradigma positivista pode ser
distinguido pelos seguintes aspectos:
a)
é possível uma medição objetiva da aprendizagem; para
tanto, é fundamental elaborar testes padronizados, rigorosos, válidos e
fidedignos (máxima: boa avaliação = bom exame)
b)
avaliar é verificar se os objetivos da formação,
previamente estipulados em programas e currículos, foram plena e devidamente
alcançados; o controle dos resultados obtidos é feito com relação à medida
esperada; o melhor modo de fazer essa verificação é observar mudanças operadas
em comportamentos manifestos
c)
as diferenças interindividuais observadas resultam do
traçado biogenético ou orgânico dos indivíduos (ideologia do dom); essas
diferenças são legitimadas por práticas e discursos pedagógicos que fazem da
avaliação uma operação de sanção/seleção
d)
é importante conceber sistemas adequados de notação que
expressam com rigor e fidelidade os resultados dos exames e validem e
certifiquem as aquisições demonstradas
e)
a avaliação prioriza produtos acabados, cujo caráter
estável favorece a medição objetiva das aprendizagens; os resultados é que
contam, não as intenções ou razões subjacentes ou paralelas a eles; daí o
aperfeiçoamento constante dos instrumentos e procedimentos de coleta e
tratamento das informações geradas
f)
a formação é pensada como uma transformação, uma produção
inscrita em um processo de rentabilidade e eficácia; o avaliado torna-se
“coisa”, resultado de um conjunto de pressões e condicionamentos; já o
avaliador é aquele que racionaliza a experiência do outro
PARADIGMA TRADICIONAL – 3A FASE
PROFISSIONALIZAÇÃO DO CAMPO
Décadas de 60 e 70 ® profissionalização
do campo da avaliação; tempo marcado por muitas e diversas mudanças sociais,
acompanhadas de movimentos militantes em defesa dos direitos civis dos
negros/minorias, principalmente nos Estados Unidos
Papel sociopolítico da avaliação: identificar corretamente
os problemas sociais para resolvê-los através de políticas adequadas e da
racionalização da distribuição de recursos, com o aporte das diversas ciências
humanas e sociais
Consolida-se o caráter público e político da avaliação,
beneficiada, agora, pela multidisciplinaridade e pelas pesquisas qualitativas
em curso
Ampla participação da sociedade civil
Não se pode deixar de assinalar, contudo, que a avaliação
das décadas de 60 e 70 é ainda marcada por um certo positivismo; isso porque o
sucesso das políticas de Estado era medido através de indicadores objetivos, na
perspectiva de aumentar a produtividade dos programas e de otimizar a relação
custo x benefício
PARADIGMA TRADICIONAL – 4A FASE
A LÓGICA NEOLIBERAL E DE MERCADO
Período compreendido entre o final dos anos 70 e a década
de 80 ® crise do
petróleo e da economia, em escala mundial; isso conduz a drásticos cortes de
recursos nas áreas sociais, justificados através de variados discursos, entre
eles o discurso contra o desperdício e a ineficiência das universidades
públicas; é a fase de consolidação da racionalidade neoliberal
O universo da educação é equiparado ao mercado,
o que implica mudanças significativas nos conteúdos e procedimentos
da avaliação
Surge um novo Estado avaliador – de
provedor de benefícios e serviços passa a controlador e fiscalizador; a avaliação,
que antes tinha como propósito analisar a eficácia de programas com a
finalidade de torná-los melhores e mais produtivos em termos sociais, está
agora impregnada da lógica do controle e da racionalidade orçamentária,
significando cortes de financiamento e rebaixamento da fé
pública da educação e das políticas educacionais
Os critérios de avaliação são centralizados,
verticalizados, impostos sem questionamentos, em
lugar do pluralismo e da negociação de critérios, metodologias e formas de
participação característicos da década anterior
Impõe-se a competição como forma de
assegurar o melhor serviço aos clientes e usuários do sistema
Deixou-se de acreditar na capacidade da avaliação e das
ciências humanas/sociais de identificar e resolver problemas; governos e
mercado exigem agora maior eficiência na produção de qualidade e perfis
requeridos na nova fase do capitalismo; daí que os princípios
democráticos e as idéias de ampliação do acesso à educação são substituídos
pela proposição de um currículo que garanta a aquisição de competências e
habilidades compatíveis com o que exige o mercado atual
PARADIGMA TRADICIONAL – 4A FASE
A LÓGICA NEOLIBERAL E DE MERCADO
Dias Sobrinho (2002): esse período recupera a
epistemologia positivista e, em termos de avaliação, o disciplinamento
se sobrepõe ao diagnóstico
Afonso (2000b) ® professores
como meros executores de currículos e programas produzidos em função
dos interesses hegemônicos na nova conjuntura
Afonso (2000a) ® há uma
relação estreita entre o modelo de avaliação normativa, excludente, e a
economia de mercado; dentro dessa ideologia, a competição e a comparação são
valores importantes; a avaliação superdimensiona o domínio cognitivo e
instrucional da educação e se concentra nos resultados tidos como
quantificáveis; são utilizados testes padronizados e se reduz
significativamente a complexidade do processo educativo; além disso, os
resultados, longe de servirem a um trabalho de interpretação, passam a ser
encarados como indicadores úteis para o mercado
A AVALIAÇÃO CONCEBIDA COMO MEDIDA CONSTITUIU O PARADIGMA
DOMINANTE DURANTE MUITO TEMPO; ENTRETANTO, PASSOU A SER QUESTIONADA POR VÁRIOS
MOTIVOS
LIMITES DOS
INSTRUMENTOS E MEDIDAS
COMPLEXIDADE DO
FENÔMENO EDUCATIVO
VISÃO ESTÁTICA DO
CONHECIMENTO, DO ALUNO E DA APRENDIZAGEM; VISÃO DO PROCESSO DE ENSINO COMO
TRANSMISSÃO
PRODUÇÃO DE
HIERARQUIAS
ASPECTOS CULTURAIS
VISÃO NEGATIVA DO
ERRO
AVALIAÇÃO TRADICIONAL NÃO CONDUZ A TRANSFORMAÇÕES
LEGITIMAÇÃO DE UMA
CERTA ORDEM SOCIAL
UM NOVO PARADIGMA EM CONSTRUÇÃO: AVALIAÇÃO ENQUANTO
DISCURSO
Necessidade de repensar a avaliação: um paradigma emergente
¤ contexto
atual: tempo de busca de novas formas de racionalidade, em que a avaliação seja
uma prática de interpretação; tempo que exige o pensamento crítico, a autonomia
intelectual, a criatividade, a serem desenvolvidos em processos pedagógicos
democráticos e solidários
¤ é urgente
elaborar uma teoria da avaliação que, visando à transformação social, permita a
superação da concepção tecnicista e contribua para que a avaliação se converta
em um processo de pesquisa que amplie a leitura dos processos pedagógicos que
ocorrem na escola
¤
a avaliação complexa aceita
oposições, contestações, e renuncia às certezas; põe em jogo, problematiza,
transforma as contradições em “paradoxos férteis” ou em novas “sínteses
interrogativas”
¤ o novo
panorama reclama um trabalho com a desordem e a ruptura, e não somente com a
ordem e a continuidade; um trabalho de desconstrução, de superação da fixidez;
um trabalho com as falhas e os desvios, que levaria a revalorizar o desviante,
apostando em novas possibilidades de articulação, apropriação e transferência
dos sentidos, informações e conhecimentos
Ampliação do alcance da avaliação
Abordagem docimológica tradicional, baseada nos instrumentos
e na administração da prova, cedeu lugar a uma perspectiva centrada nos
aspectos metodológicos; diversificação dos campos de referência da avaliação,
que abrangem, além do aluno e do professor, o currículo, a escola, a gestão, os
sistemas de ensino etc.
Avaliação ® entendida
cada vez menos como controle e cada vez mais como processo, experiência
histórica e temporal
Do modelo cibernético avança-se para o entendimento das
múltiplas e instáveis relações constitutivas dos fenômenos educacionais; o
ensino, a aprendizagem e a avaliação são práticas de comunicação
intersubjetiva, negociada, flutuante; o
paradigma se defronta com um questionamento permanente do sentido
Avaliação: dimensão ética e política
Ø
no marco da educação enquanto
direito social, e considerando que a qualidade educacional envolve o acesso ao
sistema, a gestão e os resultados, impõe-se a reconfiguração das práticas
pedagógicas e avaliativas, com vistas à superação do fracasso, da evasão e da
repetência
Ø
a avaliação não é apenas uma
questão técnica ou metodológica, mas um empreendimento ético e político; no
plano ético: decidir a serviço de quem está, quais os seus fins, que usos serão
feitos de seus resultados e informações; no plano político: ampliação dos
enfoques e procedimentos que levem ao debate, à negociação, às relações
intersubjetivas que caracterizam as instituições educacionais como espaços de
aprendizagem, formação, produção de conhecimentos e valores
Ø avaliação não é uma prática neutra; pelo contrário, produz-se
numa sociedade historicamente determinada, a partir de condições concretas e
objetivas, dentro de um quadro de valores que lhe conferem justificativas e
coerência; a opção por um determinado modelo de avaliação tem a ver com certas
opções epistemológicas e éticas que correspondem a uma certa visão de mundo,
conforme objetivos e resultados pretendidos
Dimensão cultural da avaliação – respeito à heterogeneidade – inclusão
Ø aluno: não
adquirir conhecimentos e adotar comportamentos, mas incorporá-los e
interiorizá-los de modo peculiar, num processo contínuo de caráter cultural e
simbólico
Ø do ponto de
vista da cultura, a concepção democrática de sociedade, escola e avaliação tem
implicações importantes ® há uma
relação direta entre cultura e qualidade educacional, no sentido de que a
escola obtém resultados melhores na medida de sua capacidade de valorizar as
formas de pensar, sentir e atuar que as diferentes comunidades desenvolvem no
enfrentamento de sua cotidianidade
Ø entendida a
escola como espaço em que “inúmeras experiências, palavras e compreensões se
configuram e se confrontam”, é importante considerar a influência das
experiências e estruturas sociais, bem como da filiação a grupos sobre as
aprendizagens e, por extensão, sobre o sucesso dos alunos
Ø escola como
“zona fronteiriça de cruzamento de culturas” ® a avaliação
deve ser democrática, no contexto de uma pedagogia da inclusão; assim sendo, a
lógica da exclusão, que se funda numa homogeneidade inexistente, deve dar lugar
a práticas inclusivas, baseadas na heterogeneidade real
Ø “disposição de acolher” (acolher não significa
aceitar como certo tudo o que vem do educando, e sim abrir espaço para o
estabelecimento de relações abertas de ensino-aprendizagem, as quais
compreendem conflitos, confrontos e contradições)
Avaliação como questão semântica / discurso / teoria da
complexidade / ampliação do olhar / dialogia
A intersubjetividade implicada no ato de avaliar reclama
novos olhares sobre a realidade: um olhar para o outro, para tentar entender
sua lógica e suas motivações; um olhar que atente para outros contextos
socioculturais e para diferentes níveis de desenvolvimento cognitivo; um olhar
que contemple, além do acerto, o erro, a hesitação, o conflito cognitivo, as
representações mentais e ideológicas, a relação do aluno com o saber, o dado
aparentemente desprezível
Essa descentração do olhar é necessária e produtiva tanto
para o professor – pela possibilidade de compreender as dificuldades do aluno e
dinamizar novas oportunidades de aprendizagem – quanto para o aluno – pela
importância da metacognição no desenvolvimento de sua autonomia intelectual
Papel do professor nesse diálogo com o aluno e o conhecimento
® estruturar a comunicação
pedagógica, perceber o que já está ou não construído em termos do conhecimento,
confrontar dados e informações, tomar decisões no campo da didática, no sentido
de ampliar os saberes dos alunos
No que diz respeito à metacognição, sua intervenção é
condição sine qua non para que o aluno opere o distanciamento necessário
em relação aos objetos de conhecimento; para isso, o aluno precisará do olhar e
da fala do outro, gestos imprescindíveis à lucidez metacognitiva e que funcionam
como oportunidades de estender e diversificar as competências de
auto-regulação; a metacognição é atravessada por
mecanismos de linguagem, funcionamentos discursivos, interações verbais
Prestar atenção no que os alunos dizem; articular
fragmentos de conhecimento; atentar para pistas, pormenores, indícios,
silêncios, tudo isso só é possível através de novos instrumentais e novas
perspectivas teóricas
Nessa perspectiva da avaliação
como questão semântica, estabelece-se uma tensão entre o sentido dado, estabelecido,
como resposta a verificar com gabaritos preestabelecidos, e o sentido em
elaboração, a ser questionado, buscado, interpretado
Avaliação como
questão semântica / discurso / ampliação do olhar / dialogia (cont.)
Uma prática diferenciada de
avaliação demanda não propriamente uma mudança radical de seus métodos e
técnicas, mas uma nova compreensão de seu significado
É fundamental construir
domínios de referência que orientem a interpretação da realidade – norma, valor
ou referente, em nome dos quais é possível analisar os dados e informações
obtidos
A comunicação é o motor principal
dos progressos do aluno, não por ser ela responsável direta pela aprendizagem,
mas por estruturar muito fortemente o funcionamento da linguagem e, em
conseqüência, regular os processos de construção, reconstrução e apropriação do
conhecimento
A avaliação não produz resultados e conclusões definitivos
e inquestionáveis ® estes devem
passar por um intenso trabalho de interpretação, discussão e crítica envolvendo
as partes interessadas; a validade da avaliação estaria vinculada mais ao
processo de reflexão que ela pode instaurar do que mesmo aos seus procedimentos
e resultados
Metáfora da avaliação como uma “rede de palavras”:
avaliação é discurso, é ter algo a dizer, e o avaliador, o ator de uma
comunicação social
O professor interpreta
dados, interroga as respostas, busca sinais, capta as singularidades de cada
formulação; o observável (um comportamento, uma atitude, um discurso) é um
signo, cujos sentidos estão por serem construídos; o trabalho de interpretação
exige dele um movimento entre a situação observada e o sistema de idéias,
referências e princípios que a torna inteligível; não é o caso de construir uma
“grelha de leitura” para simplesmente julgar, mas uma rede de significação para
compreender e agir
Ultrapassar
a noção de medida / avaliação como questionamento
Avaliação formativa fornece informações mais precisas e
qualitativas sobre os processos de aprendizagem; identifica e explica erros;
sugere hipóteses sobre as estratégias e desempenhos dos alunos, alimentando
continuamente a ação pedagógica
Conceituação da avaliação como um juízo de valor sobre dados
relevantes, com vistas a uma tomada de decisão; a avaliação implica dois
processos articulados e indissociáveis – diagnosticar e decidir
Avaliação entendida como problematização, questionamento,
reflexão sobre a ação
Avaliar não é apenas levantar informações para tomar
decisões, dentro de um esquema racionalista de análise e controle; é questionar
visões de mundo
Objetivos
e funções da avaliação
A avaliação tem dois grandes objetivos: auxiliar o educando
em seu desenvolvimento pessoal e responder à sociedade pela qualidade do
trabalho educativo empreendido (balanço do “mandato social” da escola)
A avaliação deve ser permanente, instalar-se como cultura,
ação organizada e programática; tem uma evidente dimensão educativa, pois gera
informações, indica desafios e necessidades da prática pedagógica, cujo
enfrentamento exige formação e aperfeiçoamento dos agentes escolares; não
consiste mais em julgar o aproveitamento dos alunos com a finalidade de decidir
sobre sua aprovação ou reprovação
Para muito além da medida, a avaliação tem funções sociais
bem mais amplas e abrangentes; cabe-lhe fornecer subsídios para que os
responsáveis pelo desenvolvimento e coordenação de ações educativas possam
promover o aperfeiçoamento dos processos e das condições de ensino; também é
sua função democratizar a educação e o conhecimento, desenvolvendo ações que
levem à efetivação da aprendizagem e ao êxito escolar
A avaliação tem como finalidade analisar o aproveitamento
escolar em função de uma teoria de ensino-aprendizagem, para que se possam
repensar os métodos, procedimentos e estratégias de ensino, buscando-se
solucionar as dificuldades encontradas na aquisição e construção de
conhecimentos; adicionalmente, a avaliação deve, ainda, propiciar uma visão
mais abrangente da realidade escolar, na medida em que, ao desvendar entraves e
emperramentos entre os objetivos propostos e os resultados alcançados, abrem-se
novos rumos, novos arranjos e novos fluxos de comunicação que articulam, de
forma mais produtiva, a sala de aula e os demais espaços da escola
Avaliação e tomada de decisões - reorganização da prática -
transformação social
A avaliação coloca algumas
exigências, entre elas a reorganização das aulas, novos acordos didáticos entre
aluno e professor, um trabalho articulado dos vários agentes educacionais e um
questionamento permanente sobre a relevância dos conteúdos a serem ensinados,
enfim, mudanças na própria cultura escolar
Atribuir graus e classificar
indivíduos e instituições a partir de desempenhos mostrados em exames é menos
relevante que discutir se os conteúdos ensinados constituem realmente um corpo
significativo de conhecimentos e sobre como eles contribuem para a formação dos
alunos e qual o sentido dessa formação
É preciso, numa postura de
abertura mental, transformar aquilo que os números registram em um universo
pleno de significados sociais para as ciências e as comunidades humanas;
novamente, temos aqui a condição da avaliação enquanto trabalho simbólico,
cujos desdobramentos, além do estabelecimento de relações, da produção de
sentidos e dos juízos de valor, devem levar à tomada de decisões, à ação, à
transformação social, em suma, ao engendramento de novas realidades
Para além do certo x errado / nova visão de erro / postura de investigação
e pesquisa
Deslocamento do eixo central da
avaliação da classificação das respostas, tendo como referência um modelo de
acerto, para a análise do conhecimento existente e em processo de construção;
as respostas indiciariam o que o aluno já sabe, o que não sabe e o que pode vir
a saber; essa análise de percursos, processos e potencialidades faz da
avaliação um trabalho de interpretação de dados e informações, cujo valor se
define em relação aos contextos em que são gerados
Avaliação = leitura de realidade
orientada por questionamentos, exercício de investigação e pesquisa
Dissolve-se a linha divisória
entre saber e não-saber, dicotomia construída com base na oposição conhecimento
x ignorância; as respostas dos alunos se situam num movimento de construção-desconstrução-reconstrução,
indicando sempre as possibilidades de novos questionamentos
As relações entre o saber e o
não-saber podem ser estabelecidas em favor da manutenção ou da transformação
das relações sociais; se a opção é pela transformação, compete ao professor
converter o não-saber – estático, negativo e definitivo – em ainda-não-saber –
provisório, relativo e potencial
Cada saber está ligado a outros
objetos possíveis de avaliação, cada conteúdo contém em si mesmo um caráter de
transversalidade; o esforço de articulação dos saberes e não-saberes faz da
avaliação uma atividade crítica, dado que a mera aferição ou verificação não
significa que o avaliador explore da situação avaliada todas as conseqüências e
sentidos possíveis
Os resultados diferentes, até
mesmo díspares, encontrados nas avaliações advêm de conhecimentos construídos
em processos singulares de aprendizagem, a partir de óticas particulares; essas
peculiaridades, longe de representarem deficiências, podem e devem ser trabalhadas
no movimento coletivo, gerando debates, polêmicas, confrontos; possibilitando o
exercício da indagação, da dúvida e do pensamento divergente
Avaliação formativa, reguladora
Aprender, formar-se vai muito além da aquisição de
comportamentos e informações; o professor não é mais aquele que “dá a lição e
toma a lição”, que dirige e modifica o aluno, fazendo com que este domine
progressivamente os conteúdos do programa; a ele cabe atentar para a desordem e
o imprevisto, respeitando a elaboração do outro, desenvolvendo sua capacidade
de auto-organização, auto-avaliação e auto-regulação
Muitos autores denominam essa avaliação – que está mais próxima
da busca de conhecimentos, da interpretação e da análise crítica e construtiva
do que mesmo do juízo – de avaliação formativa; seu sentido está em desenvolver
posturas, além de promover as competências estritamente acadêmicas; é uma
avaliação fundamentada no diálogo, que prevê a reorganização constante do
processo de ensino
CARACTERÍSTICAS DA AVALIAÇÃO FORMATIVA
Conceituação
ação intencional (intencionalidade educativa)
apreciação crítica da
realidade e dos fenômenos educacionais
questionamento
reflexão
ação comunicativa
interpretação
Objetivos
função diagnóstica
qualificação da aprendizagem e
do ensino
busca da efetividade e melhoria científica e social das
instituições
para além da escola ® transformação
social
Metodologia / processos de encaminhamento
participação ampla dos
sujeitos envolvidos
compromisso com uma educação
democrática, numa perspectiva de inclusão
ênfase nos aspectos
qualitativos
consideração dos resultados,
bem como dos processos de produção desses resultados
identificação de acertos e obstáculos
construção social
prioridade para o valor social das realidades avaliadas
Objetos e dimensões da avaliação
multidimensionalidade
multirreferencialidade
estudo dos diversos aspectos
da dinâmica do ensino-aprendizagem
diversidade de abordagens
exigência ética, decorrente do caráter público da
educação
reforço da significação pedagógica e formativa dos
processos
respeito às diferenças culturais
Programa Brasil
Alfabetizado (UFPE-CEEL)
Transparências da palestra da profa. Lívia
Suassuna
Título: “Paradigmas de
avaliação – uma visão panorâmica”
Recife, novembro de 2005
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