quarta-feira, 8 de junho de 2011

Como a escola deve falar de sexo?


Pesquisadores afirmam que os jovens na fase dos primeiros namoros devem receber orientações sobre sexo sem mitos nem preconceitos

Falar de sexo com crianças e adolescentes é papel dos pais, certo? Sim, mas é importante que esse assunto também seja abordado em outros ambientes de convivência dos jovens, principalmente na escola. Afinal é no ambiente de estudos que aparecem as principais mudanças nas relações afetivas entre as crianças e os jovens: no primeiro ciclo de aprendizagem, o namoro inocente; já no Ensino Médio, namoros que fomentam vontades e descobertas sexuais se tornam mais comuns.  "Hoje o sexo é abordado livremente na televisão e nas revistas. É preciso tratar do assunto também na escola", diz Ademar Francisco da Silva, coordenador da Escola Estadual Ary Corrêa, de Ourinhos, interior de São Paulo. "A escola tem de informar os alunos e tirar suas dúvidas, porque estudante precisa conhecer cientificamente o que acontece com seu corpo", completa. Ainda que o assunto seja tabu para muitas famílias, é preciso assumir o tema precisa ser abordado com os jovens já que o sexo está presente na vida.

Qual deve ser o foco da discussão sobre sexo? A pesquisa "Retrato do Comportamento Sexual do Brasileiro", realizada pelo Ministério da Saúde em 2009 com 8 mil pessoas, mostra que 35,4% dos brasileiros fizeram sexo antes dos 15 anos de idade. É fato: crianças e adolescentes estão descobrindo a sexualidade e os limites do próprio corpo cada vez mais cedo. Por isso o foco deve ser a orientação sexual, mesmo. É preciso passar a informação sem reforçar mitos e preconceitos e possibilitando o diálogo da forma mais aberta possível. E isso deve acontecer tanto na escola quanto em casa.
"Existe uma crença equivocada de que fornecer Educação Sexual é o mesmo que incentivar a inicialização da vida sexual na escola", diz Isabel Botão, técnica do Departamento de DST/ AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde. Ela acredita que é indispensável a criação de um canal confiável de debate sobre o tema nas escolas, local onde as crianças e os adolescentes passam a maior parte do tempo. "Sexo faz parte do cotidiano do jovem, não adianta negar", diz.

Tire aqui as suas dúvidas sobre a Educação Sexual na escola:

A Educação Sexual é muito mais do que a questão reprodutiva. O ensino nas escolas pode enfatizar tanto a questão do prazer quanto a do direito ao livre exercício da sexualidade. Mas lembre-se: como já dissemos, cabe à família e às instituições de ensino orientar qual a maneira mais segura e responsável de desfrutar dessa liberdade.

Hoje o Brasil não tem nenhuma lei que obrigue as escolas a inserirem a Educação Sexual em seus currículos. Porém, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sugerem que o assunto seja trabalhado em todas as disciplinas, sempre que uma oportunidade aparecer. "Orientação Sexual envolve sentimentos e desejos e, portanto, não pode ser abordada só com explicações sobre o funcionamento do aparelho reprodutor e palestras médicas nas aulas de Ciências", afirma Antonio Carlos Egypto, psicólogo e coordenador do Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual, em São Paulo. Mesmo sem uma legislação específica, o número de instituições que abordam a Educação Sexual em diversas áreas do aprendizado tem aumentado. Além disso, projetos nacionais que abordam a sexualidade relacionada à saúde ganham cada vez mais força no ambiente escolar. Um exemplo é o Programa Saúde e Prevenção nas Escolas (SPE) criado em 2003, por meio de uma parceria entre o Ministério da Saúde e o MEC. O Programa tem como objetivo promover a saúde sexual, reduzir a vulnerabilidade de adolescentes e jovens às doenças sexualmente transmissíveis (DST), à infecção pelo HIV e à gravidez não-planejada. Qualquer escola pode aderir ao Programa Saúde e Prevenção. Basta entrar em contato com a Secretaria de Educação do respectivo Estado.

O tema deve ser tratado na escola abordando a questão dos direitos sexuais, mas alertando para a importância da responsabilidade e da necessidade da prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, como Aids e hepatites virais. Para tanto, é necessário que gestores, profissionais da área da saúde e da Educação e toda comunidade escolar assumam esse compromisso de maneira pedagógica, sem passar por cima de valores e culturas familiares.

Educadores aconselham que sejam feitas reuniões pedagógicas para explicar aos pais de que maneira o sexo será abordado no currículo. É nesses espaços que você, pai, deve manifestar suas dúvidas sobre a Educação Sexual nas escolas ou mesmo reclamações sobre a forma como o conteúdo tem sido passado ao seu filho. Afinal, a abordagem do tema de maneiras extremas - "sexo é proibido antes do casamento" ou "transar com muitos parceiros sem preocupação não traz nenhum problema" - não é saudável para aprendizagem e muito menos corresponde a um método pedagógico de ensino.  "Quando a criança consegue transmitir ao pai a Educação Sexual que aprende na escola de forma didática e a família entende que o aluno está sendo informado com o uso de termos científicos, os pais ficam tranqüilos", conta o coordenador da Escola Estadual Ary Corrêa, em Ourinhos (SP), Ademar Francisco da Silva, que, quando dava aulas de Ciências na escola, apostava em um perfil didático e científico de abordagem. "Se vou falar de vagina, estou preparado para falar daquilo de maneira didática: é um órgão do corpo humano. Depois, os alunos já não dão mais risadas e tratam aquilo com seriedade, fazem perguntas e prestam atenção nas explicações", garante Silva.

Na sala de aula, o recomendado pelos pesquisadores e educadores que abordam o tema da sexualidade na juventude é que os professores optem por metodologias mais fluidas do que, por exemplo, por palestras de especialistas sobre o tema. "Recomendamos que eles optem por metodologias participativas, aulas temáticas, discussões de vídeo, oficinas, seminários, gincanas, teatro, atividades ligadas à cultura e à arte", diz Isabel Botão, técnica do departamento de DST/ Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.  É importante também que os professores de todas as disciplinas, principalmente aqueles que se sentem mais à vontade para trabalhar a temática, abordem questões sexuais nas salas de aula cotidianamente. "Acreditamos no canal permanente e cotidiano de discussão", completa Isabel.

A família ainda tem um papel essencial quando o assunto é sexo. Apesar da mudança na forma de abordagem, falar de sexo com os filhos pode ser motivo de constrangimento para muitos pais. Entretanto, é preciso assumir que, ainda que se tente evitar o assunto, o sexo está presente em todas as faixas etárias, seja nos questionamentos mais ingênuos de uma criança que está descobrindo o corpo - "Mamãe, por que eu não tenho pipi?" -, seja na adolescência, quando os hormônios estão em ebulição e meninas e meninos ficam sedentos por informações ligadas à vida sexual. Essas situações são exemplos que ajudam a identificar quando é o momento de falar sobre questões sexuais com o seu filho.

Quando a criança ainda é muito pequena, vale fazer analogias para explicar os apetites sexuais. Uma boa explicação é a de que um cheiro gostoso de comida faz a gente sentir vontade de comer e um vento frio faz a pele se arrepiar. Do mesmo modo, algumas imagens (como um casal que se beija, por exemplo) estimulam os órgãos sexuais.  Já com os mais velhos, pode ser uma conversa aberta sobre a necessidade do uso de métodos de proteção para a hora do sexo (caminhas masculinas e femininas, pílulas anticoncepcionais etc). Deixe claro ao seu filho que a intenção das conversas não é simplesmente ensiná-lo a usar esses métodos preventivos de forma prática, mas sim refletir sobre o seu uso correto, com a devida atenção e responsabilidade. Nessas horas, livros também podem ser bons aliados. Você pode encontrar obras específicas para tratar do assunto nas livrarias. E a leitura pode ser feita junto com a criança ou adolescente ou ele pode ler sozinho. É sempre importante agir da forma que for mais agradável para o jovem e para o adulto.

Desde 2009, em Portugal, a lei nº 60 estabelece a aplicação da Educação Sexual em meio escolar nas instituições públicas e privadas de ensino básico do país. Entre os principais objetivos da lei, está o desenvolvimento de competências nos jovens que permitam escolhas seguras no campo da sexualidade; a melhoria dos relacionamentos afetivo-sexuais entre os alunos; a redução de consequências negativas dos comportamentos sexuais de risco, como a gravidez indesejada e as doenças sexualmente transmissíveis; e capacidade de proteção diante de todas as formas de exploração e de abuso sexuais.  Já na Argentina, mesmo enfrentando diversas críticas, em 2006, o Congresso Nacional sancionou uma lei que obriga a Educação Sexual no currículo das escolas públicas e privadas. Com a entrada da lei em vigor, o Manual de Formação dos Professores passou a ser distribuído nas escolas do país. O material tem capítulos dedicados à Educação Sexual e à prevenção contra a Aids.  Um dos casos mais interessantes é o da Inglaterra. Em 2008, o país tornou obrigatória nas escolas a criação de uma disciplina responsável por orientar alunos sobre temas pessoais, sociais e de saúde, incluindo a Educação Sexual. A disciplina é obrigatória para estudantes dos cinco aos 16 anos. Nos primeiros anos de ensino, os estudantes aprendem sobre as partes do corpo. E o ensino sobre reprodução humana só acorre quando as crianças estão mais velhas.

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