Por Oziane da Silva Cavalcante
INTRODUÇÃO
Neste trabalho
estão presentes algumas reflexões apreendidas no decorrer do 4º semestre da
Graduação em Pedagogia, que aborda como temática central o direito ao brincar
fundamentado pelos benefícios da brinquedoteca a criança.
Em todas as culturas e momentos
históricos as crianças brincam, pois brincar é sua linguagem natural.
Precisamente, sobre esta linguagem juntamente com suas contribuições
para o desenvolvimento físico, psíquico e emocional das crianças, que muitos
teóricos se debruçaram, tais como Conti e Sperb, Friedmann, Vygotsky, Cunha,
Schlee, Kishimoto e tantos outros.
Assim, por meios de suas pesquisas e analises a criança é vista como sujeito
ativo e construtor de sua cultura lúdica.
Neste sentido, inegavelmente as atividades realizadas na
brinquedoteca proporcionam momentos de lazer, fantasia, imaginação e
criatividade favorecendo a produção de conhecimento infantil. Portanto, compete
à sociedade em geral garantir o direito de brincar das crianças, neste viés a brinquedoteca
torna-se um espaço que valoriza as ideias no plano simbólico das crianças para
que as mesmas compreendam o significado real no contexto social.
BRINCAR:
VALORIZAÇÃO AO DIREITO
Quem nunca brincou,
mergulhado em um mundo encantado e mágico? Pode-se afirmar que a brincadeira é
um dos traços inerente do ser humano, em especial as crianças. A vida lúdica
infantil na sociedade contemporânea esta alicerçada sob uma concepção de
infância construída a partir dos mecanismos da globalização e fundada
nos aportes
tecnológicos. No entanto, esta consciência social surgiu com o Renascimento e
ao longo dos anos os estudos em torno da Pediatria, Psicologia e Pedagogia, balizaram
o brincar infantil. Assim, percebe-se que as
formas de brincar, seus espaços e tempos foram se modificando de acordo a
sociedade vigente, Brougère aponta que as concepções do brincar são construções
que estão atreladas às representações de criança de cada época.
Através desta afirmativa deslumbram-se as visões que os adultos tinham a
respeito da criança e de suas brincadeiras. No período medieval as crianças
eram concebidas como adultos em miniaturas e que brincar era perda de tempo,
visto que os mesmos deveriam o mais cedo possível comportasse de acordo as
convenções sociais do período, por este motivo os indicativos lúdicos
consistiam em brinquedos rústicos, fabricados pelos pais ou pela própria
criança. A significação atribuída
ao brincar, surge com as modificações sofridas pelo vocábulo latino vinculum, cuja gênese é laço, vínculo, o mesmo
passou por vinclu, vincru até chegar a vrinco
e, por fim, brinco, este último reporta a
mitologia grega onde brincos, pequenos
deuses que voavam em tono de Venus tinham a função de adornar, seguindo após a
obrigatoriedade, concedendo à prática do brincar um exercício realizado
depois das obrigações.
Na idade moderna, com estudos de vários teóricos, a infância e suas
especificidades são analisadas sob novas e diferentes óticas, neste período, o
brincar e seus papel no desenvolvimento são focado. Friedmann
considera a brincadeira como um sistema integrador da vida social da criança,
sendo transmitida de geração a geração, mudando o conteúdo, mas não o formato. Deste
modo, o conjunto dos fatores biológicos, psicológicos e as
interações sociais constitui a base para a construção de uma cultura lúdica
individual e também geral durante a infância, tendo
em vista que lúdico, a brincadeira é uma atividade que resulta de uma
situação imaginário-lúdica. Lima (1994, 1995, apud PETERS, 2009), defende que por
meio da brincadeira a criança constrói conhecimentos sobre a realidade em que
está inserida. Nesta perspectiva, Dewey coloca que a compreensão da
funcionalidade social permitem as crianças aprenderem os mais variados hábitos
e valores, dependendo do ambiente em que se encontram.
Pautado nestas
colocações, tem-se a brincadeiras como função para a criança, criar
condições para o seu desenvolvimento integral (social, cognitivo, emocional, e
psicomotor), partindo de objetos concretos, situações imaginárias e interações
sociais, estabelecendo relações com o mundo e construindo conhecimento sobre
ele e sobre si mesma. Substancialmente, o
brincar e a brincadeira são ações da criança que acontecem através do jogo ou
uso do brinquedo, mas também ocorrem no formato oral, corpóreo ou na utilização
da imaginação.
Infere-se das disposições acima, que a ludicidade está presente na vida
da criança seja na fase involuntária e/ou na sua fase voluntária, pois segundo
Huizinga, ela significa “ilusão, simulação”, Vygotsky
explica que “A essência do brinquedo é a criação de uma nova relação entre o
campo do significado e o campo da percepção visual – ou seja, entre situações
do pensamento e situações reais”. Embasado nesta teia histórica de contribuições
que na contemporaneidade, o brincar é juridicamente garantido pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948 que estabelece em seu artigo 24 “o direito ao repouso
e ao lazer”, como também pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em seu
artigo 16, que estabelece o direito a “brincar, praticar esportes e
divertir-se”. Sabe-se que muitas crianças tem sua infância roubada por
obrigações domésticas ou de trabalho em prol do sustento da família, onde é
inexistente o divertisse ou a prática de esportes.
Esse discurso relativo ao valor da brincadeira como garantia de um
direito vem sendo debatido na atualidade, tendo em vista inúmeros estudos
apontarem a negação e diminuição do brincar infantil, ocasionado pelos mais
diversos motivos. Friedmann, desde 1998 apontou em seus
estudos que cada vez menos as crianças da atualidade brincam alguns fatores
responsáveis por esta mudança são: o processo de industrialização produtos, o
avanço tecnológico a concepção de infância atual; a globalização; a
institucionalização das crianças em escolas e principalmente a utilização de
brinquedos e jogos como instrumentos educativos para “treinar” crianças para a
vida adulta.
Hoje, muitas
crianças não dispõem de tempo inteligente para descobrir seus limites, espaços e para conhecerem o sabor da liberdade, pois
o que mais se presencia no cotidiano infantil na atualidade, são crianças
assujeitadas e não sujeitos. Infelizmente, os centros urbanos, dispõem de
espaços insuficientes para o brincar, praças, parques, ruas são substituídos
por shopping, sem mencionar a violência e outros atrativos da era moderna,
que sufocam e submetem as crianças a uma
rotina violada por um mundo adulto artificializado, com a manipulação
publicidade da televisão na sociedade do consumo. Assim, na conjuntura social
da tecnocultura vivenciada pelas crianças onde a vida é regida de parafernálias
tecnológicas, o brincar passou de uma vivência real para uma virtual, com
remodelagem de antigos brinquedos e com a inserção de aparelhos que simulam ambientes
multiusuais da internet, isso faz com que cada vez mais a criança fique
isolada, longe da sociabilidade que as brincadeiras propiciam.
Diante disso, é gritante a necessidade de reformular e organizar o real
sentido do brincar no âmbito físico/cognitivo. Essa consideração sobre o
brincar infantil como direito expressa o reconhecimento de liberdade
onde o brincar assume uma forma livre e
imprevisível, de atividade elaborada, estruturante e regulamentada por aqueles
que brincam, e anula a possibilidade da exploração do trabalho infantil, que
ocorrem em muitos lares onde a situação financeira é precária. O governo
federal a fim de amenizar a miséria e garantir o acesso à escolarização e
consequentemente ao laser e a brincadeira, criou muitos programas
assistencialistas para as famílias na linha da miséria no Brasil. Apesar de tal
empenho é preciso transformar a promoção do direito à brincadeira em uma luta
política, pois não é admissível o desrespeito ao direito ao brincar, que
corroí a liberdade para o exercício livre de aprendizagem subjetiva, através de práticas utilitaristas e autoritárias que
anulam sua essência, por tal motivo, é relevante
organizar vários momentos da rotina familiar e escolar que privilegie a
ludicidade.
Nesse sentido, vários são os olhares a partir dos quais se
analisa a importância do brincar para a criança e que orientam a prática
docente Vygotsky explica que: “... a
criança em idade pré-escolar envolve-se num mundo ilusório e imaginário onde os
desejos não realizáveis podem ser realizados, e esse mundo é o que chamamos de
brinquedo”.
Nesse pressuposto, o
brinquedo ganha um referencial ao criar durante a brincadeira a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) que
consiste na distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de
desenvolvimento potencial, isto é, a distância entre aquilo que a criança
consegue fazer sozinha e aquilo que ela consegue fazer com o auxílio de adultos
ou companheiros mais habilidosos para a atividade,
nessa ótica jamais se brinca sem
aprender. Por isso, atualmente a brinquedoteca vem sendo palco de estudos que
buscam oferecer possibilidades de ações, ou seja, opções para brincar de
forma livre, individual e coletiva, sendo assim, designa um espaço preparado
para estimular a criança.
A Brinquedoteca é construída
com um objetivo claro e com uma finalidade específica, brincar de acordo com o
seu interesse, sua potencialidade e sua expressão lúdica. Deste modo, a
Brinquedoteca incentiva a autonomia e desenvolve a capacidade crítica, promove
o trabalho em equipe, a socialização, o desenvolvimento infantil, a
comunicação, a criatividade, a imaginação e o desenvolvimento de atividades
lúdicas. Em entrevista com alunos do 4º ano dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, da rede particular de Educação, ao questioná-los sobre o que é uma
brinquedoteca, foram enfáticos ao descrevê-lo como lugar onde se brinca e que
tem brinquedos e livros. Quando perguntadas como deveria ser uma brinquedoteca,
logo disseram ser um ambiente grande, na cor branca, com brinquedos diversos:
ursinhos, bonecas, carros, jogo da memória, massinha, quebra-cabeça, etc. Para
instigar mais sobre o tema, foram questionadas se a escola que estudam possui
brinquedoteca e como são realizadas as atividades nela, a resposta expressa a utilidade
da brinquedoteca, com atividade no momento do recreio sob a supervisão da
professora.
Assim compreende-se que para valorização
efetiva da brincadeira dentro do ambiente escolar, mas precisamente na
brinquedoteca, é necessária uma ampla formação prática e teórica, com técnicas
de animação lúdica, de jogos, brinquedos e brincadeiras, aos profissionais das
instituições escolares, porque somente sua presença na escola não garante que
de fato cumpra sua finalidade. Em suma, o brincar é um comportamento e não deve ser
entendido apenas como uma resposta a um estímulo, mas como uma relação
estabelecida com um contexto social, dentro de um sistema cultural, pois
brincando a criança nutre seu interior, aprender a viver socialmente,
respeitando regras, cumprindo normas, ou seja, interagindo de modo organizado.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Diante
do exposto, a concepção de infância com destaque no papel do brincar sofreu
modificações significativas ao longo da historicidade infantil. No contexto social em vigor vê-se a crescente ocupação
das crianças controladas por adultos, onde sistemas simbólicos são
relativamente padronizados, assim a dinâmica da heterogeneidade reluta por um
traço cultural de aprendizagem eminente: a ludicidade. O ECA traz em
seu texto o direito de brincar em relação ao não trabalho infantil. Esse ponto
é interessante, visto que não bastar apenas garantir o direito de brincar é
preciso garantir espaços destinados para que isso aconteça para que a criança
usufrua de sua liberdade, em termos de agilidade, de faz-de-conta e de imaginação.
A fim de garantir os
direitos de brincar e se desenvolver plenamente por meio das mesmas é
necessário dispor de instrumentos que valorizem as experiências infantis com a
ludicidade, dentre elas podemos citar o resgate das brincadeiras de ruas, hoje
tão pouco vivenciadas. Na escola, o jogo não pode apenas servir como meios de
trabalhar conteúdos e habilidades, ele deve esta presente de forma livre, nesse
ínterim concentra-se o objetivo principal da brinquedoteca: proporcionar
atividades lúdicas em um espaço para brincadeiras não dirigidas, espontâneas.
Quando a escola modela efetivamente essas ações exercita o direito de escolha
das crianças, o que resulta disso é o reconhecimento da infância que abarca o
processo de descoberta de si e dos outros concedendo ao brincar e aos jogos uma
condição indispensável para que ela usufrua de sua liberdade, em termos de
agilidade, de faz-de-conta e de imaginação.
Conclui-se assim, que
a brincadeira esta presente em todo processo da existência humana, não sendo
exclusividade infantil, porém é exatamente neste período que a brincadeira age
como propulsora de liberdade, prazer e aprendizagem, mesmo que nem sempre essa
compreensão esteve presente na sua historicidade juntamente com o respeito as
suas peculiaridades.
REFERÊNCIAS
ANICETO. Remisson. Brincadeira é coisa séria.
Disponivel em: http://remisson.com.br/2013/02/05/brincadeira-e-coisa-seria/
Acesso em 03. Out. 2013.
CAMARGO.
Dilan. O direito de brincar. Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/1599610 Acesso em 03. Out. 2013.
MARTINS,
Alissandro. O brincar infantil. Disponível em: http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAeQUAH/brincar-infantil Acesso
em 03. Out. 2013.
ROSA, Fabiane Vieira da; Kravchychyn, Helena;
Vieira, Mauro Luis. Brinquedoteca: a valorização do lúdico no
cotidiano infantil da pré-escola.
SAMENTO, Manuel Jacinto. As Culturas da infância nas
encruzilhadas da 2ª modernidade.
O
Papel das brincadeiras no desenvolvimento das crianças. Pedagogia ao Pé da Letra. Disponível em: http://arteeducacaoemovimento.blogspot.com.br/2013/06/o-papel-das-brincadeiras-no.html#.Uk1EytK-obI Acesso em 03. Out. 2013.
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