Você não quer comprar doce
no supermercado? Seu filho abre o berreiro. O amigo não quer emprestar o
brinquedo? Ele chora e tenta bater no colega. Já está na hora de parar de
brincar? Ele se joga no chão e esperneia. A birra e as explosões de raiva como
essas são comuns entre as crianças pequenas, especialmente entre 1 e 3 anos,
podendo se estender até os 6 em alguns casos. "As crianças dessa idade,
quando se vêem diante de situações de frustração se expressam dessa forma
porque ainda não sabem como controlar seus sentimentos e como expressar que não
gostam de algo", explica Christine Bruder, psicóloga do bercário Primetime
Child Development. Mas é papel dos pais ajudá-las a domar essas reações e
ensiná-las a aceitar quando alguém lhe diz não.
Autocontrole é uma
lição importantíssima e que vai servir para toda a vida do seu filho. Veja as
dicas dos especialistas:
O que é a birra?
É um comportamento
que se observa quando a criança se vê em uma situação de frustração. "É
uma resposta emocional intensa da criança a algo que a frustrou ou que ela
pensa que vai frustrar. A birra pode envolver choro, gritos, se jogar no chão,
ficar paralisado, ficar mudo, agredir-se, agredir, morder, unhar, urinar, parar
de comer...enfim, um show de horrores para a maior parte dos pais", diz a
psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. As reações variam
de criança para criança, assim como a intensidade. "A birra e as explosões
emocionais como essas podem ser muito ou pouco freqüentes, dependendo de cada
indivíduo", complementa Christine Bruder, psicóloga do bercário Primetime
Child Development, em São Paulo.
Por que crianças
pequenas reagem dessa forma?
As crianças costumam
ter essa reação porque não são maduras ainda para lidar com a frustração.
"Isso significa que podemos considerar esperado que uma criança pequena
reaja assim. E essa é uma ótima ocasião para os pais trabalharem a aceitação do
filho à frustração, orientando, explicando, enfim, ajudando para que ele supere
essa fase", explica a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita
Calegari. Mas ela alerta que, infelizmente, reações como essas não são
exclusividade das crianças. "Vemos muitos adultos descontrolados no
trânsito, nas relações pessoais, no trabalho. Adultos também têm seus ataques
de birra".
Como os pais devem
reagir quando as crianças têm ataque de birra?
Em primeiro lugar,
devem dar o exemplo, ou seja, devem mostrar que estão controlados. "O mais
produtivo é que os pais mantenham a calma. E tentem descobrir o que está
acontecendo com a criança, qual o motivo da insatisfação", diz Christine
Bruder, psicóloga do bercário Primetime Child Development. Mas também é preciso
ter em mente que nem sempre será possível estabelecer com a criança uma
conversa nessa hora.
"Deixe-a fazer a birra, não fale muito (ela não vai ouvir mesmo), espere
passar, proteja-a para que não se machuque e quando ela estiver mais calma, aí
sim, converse", diz a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita
Calegari. "Como parte da birra envolve chamar atenção, quando a criança
ficar birrenta evite que todo mundo fique dando atenção (lembre-se que atenção
de pai e mãe vale ouro pra criança). Leve-a para um local reservado,
monitorando-a. Não a deixe sozinha sem supervisão de um adulto", acrescenta
a psicóloga.
Há como prever um
ataque de birra?
Sim. "Lembre-se
de que é como ferver leite: depois de um certo ponto da fervura, mesmo se você
desligar o fogo, o leite vai subir e derramar. O ideal é ficar atento antes do
leite ferver, ou seja, estar atento à criança para evitar o ataque", diz
Rita Calegari do Hospital São Camilo de São Paulo.
Colocar de castigo
funciona nesses casos?
Castigar a birra é
muito complicado, segundo alerta a psicóloga do Hospital São Camilo de São
Paulo, Rita Calegari. "Não é garantia de que outra crise não ocorrerá. O
que funciona é os pais manterem uma postura enérgica: após a birra, converse
com a criança dando-lhe apoio para entender seu comportamento e formas
saudáveis de como lidar com a frustração. Explique porque não pode, explique
que os adultos também passam por isso e como reagem, dê seu exemplo, peça
cooperação da criança", diz Rita.
Os pais devem
falar mais alto que a criança quando ela faz birra?
Não, pelo contrário,
isso não vai ensinar nada de útil ao seu filho. Dará apenas o exemplo errado.
"Será uma criança imatura com um adulto aparentemente descontrolado
interagindo", diz a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita
Calegari.
Se o ataque de
birra acontecer em público como reagir?
Com muita calma e
autocontrole. E sem ceder ao que foi negado ao filho. "Os pais,
normalmente envergonhados, querem fazer a criança parar e acabam cedendo à
pressão dos filhos. Relaxe: todo mundo que tem filho já viu isso antes e quem
não viu, se for pai um dia verá", aconselha a psicóloga do Hospital São
Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Importante também é não deixar a criança
sozinha e tentar levá-la para um local mais reservado, se for possível, para
esperar que ela se acalme, conforme recomenda a psicóloga Christine Bruder.
É importante
conversar após um ataque de birra, para discutir o ocorrido?
Sim. Mas não faça um
longo sermão. Crianças pequenas não prestam atenção a conversas longas e cheias
de argumentos. "Os pais devem falar com calma, usando poucas palavras. Não
adianta falar muito, porque o conteúdo da conversa não vai ser
compreendido", diz Christine Bruder, psicóloga. O fundamental, segundo
ela, é explicar a criança o que ela sentiu durante o descontrole emocional,
nomear o sentimento e dizer como ela deve lidar com ele. "Algumas crianças
vão querer colo depois da explosão, para se acalmar. Outras não vão querer ser
tocadas. É preciso respeitar", diz Christine.
Quando os pais não
lidam corretamente com a birra quando a criança é pequena, ela poderá continuar
tendo os ataques quando mais velha?
"Sim ! Olhem os
jovens, os adolescentes e os adultos que temos por aí!", diz a psicóloga
do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Ela ressalta que
frustrações fazem parte da vida, sempre. "Todos sentimos frustração, em
diferentes etapas de nossa vida: o primeiro amor que acaba, o vestibular que
não é aprovado, o emprego que não conseguimos, a promoção que não vem, o amigo
indisponível, o salário que não chega. Pena que quando crescemos, buscamos
formas nem sempre saudáveis de lidar com a frustração, como drogas e
álcool", alerta a psicóloga.
Como os pais devem
lidar quando sabem que o ataque de birra acontece na escola?
Converse com os
professores e coordenador pedagógico para entender as causas e trabalhar em
conjunto na busca de soluções. Essa é a recomendação da psicóloga Rita
Calegari.
O que os pais
podem fazer para evitar que os ataques de birra ocorram?
Crianças pequenas
precisam de rotina e previsibilidade. Por isso, segundo Christine Bruder,
psicóloga, é interessante preparar a criança para a situação que ela for
enfrentar. Se forem ao shopping, por exemplo, estabeleça as regras do passeio,
diga se irão ou não comprar algo para ela, quanto tempo ficarão por lá, etc.
"Também é preciso respeitar o descanso da criança. Quando ela está cansada
ou doente, é mais fácil ocorrer a birra", diz ela. Depois no retorno do
passeio, é interessante dar um retorno para a criança de como foi seu comportamento.
"Isso ajuda muito, pois ela passa a entender o que os pais esperam dela. A
criança pequena deseja agradar os pais e ficará feliz com o orgulho deles.
Devemos como pais valorizar o acerto da criança, pois acabamos dando mais
atenção ao que ela faz de errado", diz a psicóloga Rita Calegari.
Alguns pais
costumam dar tapinhas nos filhos durante ataques de birra. É correto?
Bater é um tipo de
repressão, mas não educa. "Pode até ser útil em algum momento, mas não
educa. O que educa é o diálogo, o exemplo, a insistência, a coerência. Que os
pais não se enganem: a tarefa deles é educar", diz a psicóloga Rita
Calegari.
Qual o risco
quando os pais cedem e fazem o que a criança pede durante um ataque de birra?
Novos (e
possivelmente mais potentes) ataques de birra, conforme alerta a psicóloga Rita
Calegari.
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