terça-feira, 9 de outubro de 2012

Como lidar com a birra?



Você não quer comprar doce no supermercado? Seu filho abre o berreiro. O amigo não quer emprestar o brinquedo? Ele chora e tenta bater no colega. Já está na hora de parar de brincar? Ele se joga no chão e esperneia. A birra e as explosões de raiva como essas são comuns entre as crianças pequenas, especialmente entre 1 e 3 anos, podendo se estender até os 6 em alguns casos. "As crianças dessa idade, quando se vêem diante de situações de frustração se expressam dessa forma porque ainda não sabem como controlar seus sentimentos e como expressar que não gostam de algo", explica Christine Bruder, psicóloga do bercário Primetime Child Development. Mas é papel dos pais ajudá-las a domar essas reações e ensiná-las a aceitar quando alguém lhe diz não. 

Autocontrole é uma lição importantíssima e que vai servir para toda a vida do seu filho. Veja as dicas dos especialistas:


O que é a birra?
É um comportamento que se observa quando a criança se vê em uma situação de frustração. "É uma resposta emocional intensa da criança a algo que a frustrou ou que ela pensa que vai frustrar. A birra pode envolver choro, gritos, se jogar no chão, ficar paralisado, ficar mudo, agredir-se, agredir, morder, unhar, urinar, parar de comer...enfim, um show de horrores para a maior parte dos pais", diz a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. As reações variam de criança para criança, assim como a intensidade. "A birra e as explosões emocionais como essas podem ser muito ou pouco freqüentes, dependendo de cada indivíduo", complementa Christine Bruder, psicóloga do bercário Primetime Child Development, em São Paulo.

Por que crianças pequenas reagem dessa forma?
As crianças costumam ter essa reação porque não são maduras ainda para lidar com a frustração. "Isso significa que podemos considerar esperado que uma criança pequena reaja assim. E essa é uma ótima ocasião para os pais trabalharem a aceitação do filho à frustração, orientando, explicando, enfim, ajudando para que ele supere essa fase", explica a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Mas ela alerta que, infelizmente, reações como essas não são exclusividade das crianças. "Vemos muitos adultos descontrolados no trânsito, nas relações pessoais, no trabalho. Adultos também têm seus ataques de birra".

Como os pais devem reagir quando as crianças têm ataque de birra?
Em primeiro lugar, devem dar o exemplo, ou seja, devem mostrar que estão controlados. "O mais produtivo é que os pais mantenham a calma. E tentem descobrir o que está acontecendo com a criança, qual o motivo da insatisfação", diz Christine Bruder, psicóloga do bercário Primetime Child Development. Mas também é preciso ter em mente que nem sempre será possível estabelecer com a criança uma conversa nessa hora. 

"Deixe-a fazer a birra, não fale muito (ela não vai ouvir mesmo), espere passar, proteja-a para que não se machuque e quando ela estiver mais calma, aí sim, converse", diz a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. "Como parte da birra envolve chamar atenção, quando a criança ficar birrenta evite que todo mundo fique dando atenção (lembre-se que atenção de pai e mãe vale ouro pra criança). Leve-a para um local reservado, monitorando-a. Não a deixe sozinha sem supervisão de um adulto", acrescenta a psicóloga.


Há como prever um ataque de birra?
Sim. "Lembre-se de que é como ferver leite: depois de um certo ponto da fervura, mesmo se você desligar o fogo, o leite vai subir e derramar. O ideal é ficar atento antes do leite ferver, ou seja, estar atento à criança para evitar o ataque", diz Rita Calegari do Hospital São Camilo de São Paulo.

Colocar de castigo funciona nesses casos?
Castigar a birra é muito complicado, segundo alerta a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. "Não é garantia de que outra crise não ocorrerá. O que funciona é os pais manterem uma postura enérgica: após a birra, converse com a criança dando-lhe apoio para entender seu comportamento e formas saudáveis de como lidar com a frustração. Explique porque não pode, explique que os adultos também passam por isso e como reagem, dê seu exemplo, peça cooperação da criança", diz Rita.

Os pais devem falar mais alto que a criança quando ela faz birra?
Não, pelo contrário, isso não vai ensinar nada de útil ao seu filho. Dará apenas o exemplo errado. "Será uma criança imatura com um adulto aparentemente descontrolado interagindo", diz a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari.

Se o ataque de birra acontecer em público como reagir?
Com muita calma e autocontrole. E sem ceder ao que foi negado ao filho. "Os pais, normalmente envergonhados, querem fazer a criança parar e acabam cedendo à pressão dos filhos. Relaxe: todo mundo que tem filho já viu isso antes e quem não viu, se for pai um dia verá", aconselha a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Importante também é não deixar a criança sozinha e tentar levá-la para um local mais reservado, se for possível, para esperar que ela se acalme, conforme recomenda a psicóloga Christine Bruder.

É importante conversar após um ataque de birra, para discutir o ocorrido?
Sim. Mas não faça um longo sermão. Crianças pequenas não prestam atenção a conversas longas e cheias de argumentos. "Os pais devem falar com calma, usando poucas palavras. Não adianta falar muito, porque o conteúdo da conversa não vai ser compreendido", diz Christine Bruder, psicóloga. O fundamental, segundo ela, é explicar a criança o que ela sentiu durante o descontrole emocional, nomear o sentimento e dizer como ela deve lidar com ele. "Algumas crianças vão querer colo depois da explosão, para se acalmar. Outras não vão querer ser tocadas. É preciso respeitar", diz Christine.

Quando os pais não lidam corretamente com a birra quando a criança é pequena, ela poderá continuar tendo os ataques quando mais velha?
"Sim ! Olhem os jovens, os adolescentes e os adultos que temos por aí!", diz a psicóloga do Hospital São Camilo de São Paulo, Rita Calegari. Ela ressalta que frustrações fazem parte da vida, sempre. "Todos sentimos frustração, em diferentes etapas de nossa vida: o primeiro amor que acaba, o vestibular que não é aprovado, o emprego que não conseguimos, a promoção que não vem, o amigo indisponível, o salário que não chega. Pena que quando crescemos, buscamos formas nem sempre saudáveis de lidar com a frustração, como drogas e álcool", alerta a psicóloga.

Como os pais devem lidar quando sabem que o ataque de birra acontece na escola?
Converse com os professores e coordenador pedagógico para entender as causas e trabalhar em conjunto na busca de soluções. Essa é a recomendação da psicóloga Rita Calegari.

O que os pais podem fazer para evitar que os ataques de birra ocorram?
Crianças pequenas precisam de rotina e previsibilidade. Por isso, segundo Christine Bruder, psicóloga, é interessante preparar a criança para a situação que ela for enfrentar. Se forem ao shopping, por exemplo, estabeleça as regras do passeio, diga se irão ou não comprar algo para ela, quanto tempo ficarão por lá, etc. "Também é preciso respeitar o descanso da criança. Quando ela está cansada ou doente, é mais fácil ocorrer a birra", diz ela. Depois no retorno do passeio, é interessante dar um retorno para a criança de como foi seu comportamento. "Isso ajuda muito, pois ela passa a entender o que os pais esperam dela. A criança pequena deseja agradar os pais e ficará feliz com o orgulho deles. Devemos como pais valorizar o acerto da criança, pois acabamos dando mais atenção ao que ela faz de errado", diz a psicóloga Rita Calegari.

Alguns pais costumam dar tapinhas nos filhos durante ataques de birra. É correto?
Bater é um tipo de repressão, mas não educa. "Pode até ser útil em algum momento, mas não educa. O que educa é o diálogo, o exemplo, a insistência, a coerência. Que os pais não se enganem: a tarefa deles é educar", diz a psicóloga Rita Calegari.

Qual o risco quando os pais cedem e fazem o que a criança pede durante um ataque de birra?
Novos (e possivelmente mais potentes) ataques de birra, conforme alerta a psicóloga Rita Calegari.

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