quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Escola deve ajudar a prevenir crimes contra crianças e adolescentes na internet

As escolas devem debater sobre o uso seguro da internet durante as aulas, a fim de prevenir a exposição de crianças e adolescentes a crimes no mundo virtual. A sugestão é de Rodrigo Nejm, diretor de prevenção da organização não governamental Safernet Brasil, que trabalha contra a violação dos direitos da criança e do adolescente na internet. A instituição é a responsável pelo Dia da Internet Segura no Brasil, comemorado nessa terça-feira (07/02).

“Queremos que as escolas tratem a questão com antecedência, de forma preventiva. Criamos conteúdos educativos para que esse tema seja incorporado no currículo das escolas com consistência”, afirma Nejm. “Além disso, treinamos coordenadores pedagógicos e produzimos cartilhas e vídeos educativos”, completa o diretor de prevenção.

Para ele, a melhor forma de prevenir os crimes online é educar crianças e adolescentes para o uso responsável da rede. “O professor não precisa ser um especialista em tecnologia para promover dicas e orientações sobre o uso consciente da internet. Ele deve ir mais pela linha da cidadania do que pela técnica. Ele pode, por exemplo, discutir o que diz o ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] sobre o uso das lan houses e fazer pesquisas com os alunos para descobrir em quais sites eles navegam mais”, explica.

No Brasil, não há uma diretriz nacional para trabalhar o uso seguro da internet nas escolas. No município de Itapeva (SP), por exemplo, cada unidade escolar pode adaptar sua proposta curricular para dar conta da questão, mas os professores não recebem capacitação específica para abordar o tema com as crianças. “O currículo não orienta diretamente, porém vemos o tema ‘segurança na internet’ como parte integrante dos ‘Temas Transversais’. Eles são trabalhados sempre que existe a necessidade e a oportunidade, dentro de qualquer conteúdo que esteja sendo desenvolvido”, afirma Lucilene Rocha de Oliveira, assistente técnico-pedagógico de informática educacional do Sistema Municipal de Ensino de Itapeva.

Segundo Lucilene, a capacitação dos professores em Itapeva tem foco maior no uso das NTICs – Novas Tecnologias de Informação e Comunicação no processo de ensino-aprendizagem. “No trabalho com os alunos e professores do ensino fundamental, a orientação sobre uso seguro da internet acontece de maneira mais geral e sucinta”, completa.

Principais violações

O principal crime online praticado contra crianças é a pedofilia ou pornografia infantil. Além disso, são comuns casos de aliciamento sexual pela internet, considerados “os mais graves” pelo diretor de prevenção da Safernet Brasil, Rodrigo Nejm. “Os casos de bullying nas redes sociais também são cada vez mais crescentes”, acrescenta. “O ciberbullying gera discriminação na internet. Quando uma brincadeira é feita, fica difícil delimitar em que ponto ela começa e em que ponto acaba, porque o conteúdo fica para sempre disponível online”, diz.
Outra questão que tem crescido na rede é a publicação voluntária de fotos sensuais, chamada sexting. “Ela é fruto de várias influências culturais contemporâneas. Vivemos um culto geral a celebridades e as crianças e adolescentes percebem nisso um modelo. Junto com essa questão existe o fenômeno da erotização precoce da infância”, avalia Nejm.

Ele atenta também para o consumismo infanto-juvenil.  “A internet coloca a criança e o adolescente em contato com um universo de consumo muito maior que o da rua. A internet também é um espaço público, que oferece perigos quando a criança e o adolescente estão sozinhos”, avalia. “Como ainda carecemos de programas de promoção do uso responsável da internet, crianças e adolescentes acham que na rede estão em uma terra sem lei”.

O especialista sugere que os pais naveguem na internet junto com seus filhos; mantenham o computador em uma área comum da casa; e delimitem horários e tipos de acesso. “Não aconselhamos o bloqueio de sites, porque isso não promove o auto-cuidado, o diálogo, a consciência crítica e a construção de limites”, explica Nejm.

Dia da Internet Segura

O Dia da Internet Segura foi idealizado na Europa pela rede Insafe, que une organizações da União Europeia em prol do uso seguro da internet. “O principal objetivo é sensibilizar os gestores a incorporar essa questão nas políticas públicas, contando com o apoio dos meios de comunicação”, afirma Nejm.

Em 2003, os 27 países membros da União Europeia participaram do primeiro Dia da Internet Segura. Em 2009, a organização brasileira Safernet foi convidada a integrar o movimento junto com o Ministério Público. Porém, Nejm avalia que as diferenças nas ações de combate aos crimes virtuais ainda são grandes. “A colaboração do Google, do Facebook e da Microsoft para liberar a identidade dos criminosos virtuais é completamente diferente no Brasil do que é nos Estados Unidos ou na Europa. Mas o que faz o usuário brasileiro ter menos direito à proteção virtual do que os europeus e americanos? As grandes multinacionais ainda têm medo de falar do tema como se isso fosse espantar clientes”, afirma.

Saiba mais!

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente: conjunto de leis que tem como objetivo promover a proteção integral das crianças e dos adolescentes. O Estatuto foi instituído em 13 de julho de 1990, inspirado pelas diretrizes da Constituição Federal de 1988.

Temas Transversais: de acordo com o MEC, são assuntos relacionados à compreensão e à construção da realidade social dos alunos, que são trabalhados nas disciplinas já existentes. Os temas transversais, nesse sentido, correspondem a questões importantes, urgentes e presentes na vida cotidiana.

NTICs – Novas Tecnologias de Informação e Comunicação: são tecnologias e métodos de comunicação, desenvolvidos desde a segunda metade da década de 1970. Elas se caracterizam por agilizar, horizontalizar e facilitar a divulgação de informações.

Bullying: termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou um grupo. Essas ações causam dor e angústia e são executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Ciberbullying: termo utilizado para descrever comportamentos hostis e repetidos, praticados por meio das tecnologias de comunicação e redes sociais (como Facebook e Twitter), por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar o outro.

Sexting: diz respeito ao envio e à divulgação de conteúdos eróticos e sensuais com imagens pessoais na internet, utilizando para isso qualquer meio eletrônico, como câmeras fotográficas digitais, webcams, e smartphones.

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