Geralmente os alunos da EJA de 5ª a 8ª séries, como também
acontece com os adolescentes e alunos de cursos noturnos do Ensino Fundamental
regular, trazem uma concepção prévia de que a História estuda o passado.
Isso é fruto, entre outras razões, do fato de que na maioria das
escolas brasileiras ainda se ensina essa disciplina de forma bastante
tradicional, fundamentada numa visão de tempo linear, e também verbalista, com
base em aulas expositivas sobre temas desvinculados de problemáticas da vida
real, nas quais o professor entende ser seu papel apenas fornecer conhecimentos
aos estudantes.
Outra idéia comum entre alunos da EJA e de outras faixas etárias é
a de que obras e documentos históricos são como verdades inquestionáveis. O
educador deve estar atento a isso e planejar momentos em que essas concepções
prévias sejam questionadas. Também deve considerar que tanto os textos quanto
os diferentes tipos de fontes constituem versões da realidade. Dois exemplos de
atividades, para ilustrar essas idéias: comparar textos didáticos que tenham
visões diferentes sobre um mesmo tema; comparar matérias de diversos jornais
escritos que tratem de assunto atual de interesse dos estudantes e relacionar o
tema a outros momentos históricos.
Como apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais de História, o
conhecimento histórico é “um campo de pesquisa e produção de saber em
permanente debate que está longe de apontar para um consenso”. Assumir essa
postura diante do conhecimento é também perceber que, no espaço escolar, “o
conhecimento é uma reelaboração de muitos saberes, constituindo o que se chama
de saber histórico escolar”, elaborado no “diálogo entre muitos interlocutores e muitas fontes”, sendo
“permanentemente reconstruído a partir de objetivos sociais, didáticos e
pedagógicos”.
Além
de questionar as visões tradicionais da História e do ensino dessa disciplina
nas escolas, é fundamental que os professores da EJA busquem entender a
realidade do mundo atual juntamente com seus estudantes e também que os
incentivem a se tornarem cidadãos ativos nas suas comunidades. Nesse processo,
é importantíssimo buscar o resgate dos valores humanísticos, principalmente
entre aquelas pessoas que vivem nos grandes centros urbanos do Brasil e do
mundo, regiões em que o consumismo, o imediatismo e o “presentismo” têm marcado
as relações sociais.
Como
atualmente a maioria dos alunos da EJA têm mais idéias e percepções sobre o
mundo atual, o professor deve aproveitar essa característica para aprofundar
suas capacidades de refletir sobre as mudanças e as permanências nos temas e
sociedades em estudo. Desenvolvendo essa capacidade de comparar e a habilidade
de opinar sobre determinado tema histórico, estaremos contribuindo
decisivamente para o incentivo à participação de alunos e professores na vida
política, social, cultural e econômica de suas comunidades. Assim agindo, o
professor estará valorizando o estudo sobre a variedade das experiências
humanas.
Paulo
Eduardo Dias de Mello – Especialista em História e Geografia
Proposta Pedagógica-Curricular da Educação de Jovens e Adultos do Município de Joaquim Nabuco
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